Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

Trova Nossa

Este Blog pretende ser um espaço de informação sobre várias matérias relacionadas com a Música e o Som de uma forma geral, mas irá ter uma preocupação muito especial com a nossa música tradicional, por um lado, e, por outro, com as Músicas do Mundo.
Estará, como é óbvio, à disposição de todos os que queiram colaborar nesta tarefa de divulgar a a nossa música e enriquecer, com o seu contributo, este espaço que se pretende de partilha.

Publicidade

Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Quando sentimos orgulho dos nossos ex alunos...

Hoje fui surpreendido, muito positivamente, por um post do Facebook...
A Madalena Mota, minha ex aluna do Colégio Nuno Álvares da Casa Pia de Lisboa, partilhava um vídeo de um outro ex aluno, do mesmo Colégio, Ricardo Saldanha.
Com a Madalena, tal como  com outros meus ex alunos, fui mantendo contactos ao longo do tempo e desde que apareceu o Facebook, o número foi aumentando. Mas do Ricardo, não sabia nada, há já muito tempo, desde que ele deixou de frequentar o Colégio de Santa Clara, onde também foi meu aluno.
O referido vídeo, mostrava o Ricardo na sua mais recente aventura, na India, como voluntário de uma ONG, a CICD-UK, do Reino Unido, que se dedica a escolarizar comunidades de crianças em extrema pobreza.
É com enorme orgulho que aqui partilho os videos que o próprio Ricardo vem colocando no Youtube, porque entendo que estas atividades deve ter o máximo de visibilidade.
Dá que pensar!
Andamos nós, numa correria louca, preocupados, muitas vezes, com ninharias, questões sem importância... 
Zangamo-nos, cortamos relações com os outros, entramos em disputas e discussões estéreis, tantas vezes, por "dá cá aquela palha" e... do outro lado do mundo há gente que, dia a dia, luta por uma sobrevivência, que seria garantida com uma ínfima parte do que desperdiçamos.
Porque não, parar um pouco e ver com atenção os videos partilhados pelo Ricardo...
Talvez eles nos ajudem a encarar de outra maneira este ano que, por cá, se adivinha difícil, mas que perante o cenário retratado, devíamos relativizar e enfrentar as coisas com um outro espírito.

Video 1





Video 2





Video 3


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Lenda de Ponte do Rol






A Antena 1, rádio do grupo RTP, tem uma rubrica diária, que se intitula "Histórias assim mesmo", de Mafalda Lopes da Costa, onde divulga algumas das mais importantes e interessantes histórias e lendas sobre locais, tradições e rituais diversos, espalhados pelo nosso Portugal.
Hoje, coincidentemente, vinha no carro, a entrar em Ponte do Rol, quando sou confrontado com a Lenda de Ponte do Rol, na rubrica de hoje das "Histórias assim mesmo"...
Assim, resolvi procurar o "podcast" e partilhá-lo aqui neste meu espaço de divulgação das nossas memórias e tradições.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tradições de Loriga - Mandamentos da Fome...


Há algum tempo que me dedico a recolher depoimentos, documentos, testemunhos... que me permitam escrever uma espécie de biografia do meu avô paterno Abílio Luís Amaro, mas conhecido pelo Abílio "Tripa",  alcunha que herdara da sua mãe, também ela conhecida como Ana "Tripa". Ao que parece, este alcunha derivaria de um dos seus ascendentes que seria natural do Porto, terra de "tripeiros" e, como tal conhecido por "Tripa".
Mas disso falaremos noutra ocasião e local, quando compilarmos o material necessário para concluir a tal empresa.

Abílio Luis Amaro
Hoje, tendo em conta os tempos que vivemos, gostaria de recordar alguns dos conselhos que o meu avô dava aos filhos, incutindo-lhes valores que hoje, apesar de mais letrados, a maior parte dos pais se revela incapaz de transmitir aos seus descendentes.
Assim, convém, antes de mais, traçar o perfil do homem, cuja história de vida se confunde com a história da agricultura em Loriga, na primeira metade do século XX. 
O "Ti Abílio" era o rendeiro mais disputado de Loriga, no início do século. Tal facto é atestado pela quantidade de tarefas para que era solicitado. Tendo a responsabilidade das terras da família Rocha Cabral, era o "caseiro" da D. Maria,  cuja família detinha a fábrica da Fândega. As malhadas do Tapado e todas as courelas da zona da Fândega, bem como grande parte das terras do Avenal, incluindo as pertencentes à Sra. dos Anjos do Crisóstomo, que iam até aos Peliteiros, eram amanhadas por ele e pelos filhos. O segredo do seu sucesso estava na forma como adubava a terra, tirando desta mais rendimento, do que grande parte dos outros rendeiros. Para os menos avisados e informados destas coisa da agricultura, as rendas, na altura, eram pagas em produtos agrícolas, resultantes das colheitas recolhidas nas terras arrendadas. Ora, quanto maior fosse a produção, maior era o rendimento que os patrões recebiam, mas, também maior era o quinhão que o rendeiro guardava.
O Abílio adubava as terras com estrume de vaca, pois para alem das vacas que pertenciam aos patrões, a quem diariamente os filhos entregavam o leite, possuía e foi aumentando o numero, algumas de sua própria propriedade o que aumentava a quantidade do estrume e, por consequência a fertilidade das terras que amanhava. 
Quando os filhos começaram a ter alguma autonomia para o trabalho, entregava-lhes as tarefas do amanho dessas terras e ia trabalhar à jorna, em outros lugares e para outros patrões, aumentando assim o rendimento disponível da família, que ia ficando cada vez mais numerosa.
Casado com Maria Gonçalves, teve 10 filhos, mas apenas 6 sobreviveram. O Carlos, a Maria Emília, a Maria do Carmo, o António, a Maria Irene e o Fernando. Faleceram, entretanto, o Augusto, a Miquelina, o António e a Isaura.
Homem do campo, rude, mas muito divertido, era o responsável por muitos dos momentos mais animados da Vila de Loriga nessa época. Era ele que organizava os "Bailes e Contradanças" no Terreiro do Fundo, no Cabeço, na Fonte do Vale... Eram tempos em que uma simples Gaita de Beiços ou Realejo, como também lhe chamavam, servia para armar um baile e o "Ti Abílio" era exímio tocador. Os seus filhos foram todos músicos da Banda de Loriga, exigência da avó Ana que estendeu a exigência ao Augusto, filho da sua filha Glória.
Sendo um tempo de grande crise, devido, por um lado, às Guerras Mundiais e, por outro à própria situação da 1ª República e do início da magistratura de Salazar, o Abílio ensinava aos filhos alguns segredos, de boa gestão da economia familiar e assim, destaco hoje os "Mandamentos da Fome", uma lenga-lenga que ele quase obrigou a decorar aos seus rebentos e que a minha tia Irene e o meu tio António, únicos ainda vivos me passaram e considero que têm uma atualidade digna de registar:


Os Mandamentos da fome

Quem ganha um e come dois, nunca guarda nada para depois
Quem ganha dois e come três, nunca guarda nada para a outra vez
Quem ganha três e come quatro, nunca pode viver muito farto
Quem ganha quatro e come cinco, vive sempre muito faminto
Quem ganha cinco e come seis, nunca tem nada para dar aos reis
Quem ganha seis e come sete, nunca tem nada com que se espete
Quem ganha sete e come oito, nunca poderá viver muito afoito
Quem ganha oito e come nove, nunca tem nada nem para dar a um pobre
Quem ganha nove e come dez, no fim da velhice não tem que enfiar nos pés

  
Como se pode verificar, estes "Mandamentos" são um forte incentivo à contenção de gastos e à poupança, valor que, na época era precioso, tendo em conta a escassez de recursos.
Prometo voltar com outras curiosidades das Tradições de Loriga, para partilhar com os mais jovens, conscientes de que, quem não respeita o passado, não compreende o presente e arrisca-se a não ter futuro!