Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Tradições de Loriga... O Jogo da "Púcara Velha"




Das conversas que venho mantendo com gente mais velha, as quais vou registando, para posteriormente extrair os pormenores mais curiosos, retive uma interessante informação sobre o Carnaval de outros tempos em Loriga.
Entre os diversos testemunhos, há os que nos referem um muito peculiar: O Jogo da "Púcara Velha".
Decidimos aprofundar um pouco e ficámos a saber que pelo Carnaval, grupos de pessoas se juntavam nos terreiros e, formando uma roda, se divertiam passando de mão em mão a tal "Púcara Velha", cantando e dançando. A roda ia girando ao ritmo das cantigas e a "púcara" passava de mão em mão, surpreendendo, muitas vezes os participantes menos atentos, que normalmente eram contemplados com o arremesso da "púcara" na sua direção.
Contam-nos ainda que, dias antes do Entrudo, alguns rapazes se juntavam para preparar o utensílio essencial do jogo, um cântaro velho, de folha de flandres, que normalmente iria ao latoeiro para consertar, mas que, neste caso, tinha o seu fim anunciado nesta brincadeira carnavalesca. Encontrado o cântaro eleito, era recheado com pedras e a sua boca fechada à martelada. Como seria de prever, sempre que o cântaro era passado de mão em mão, o seu percurso era bastante ruidoso, causando grande alarido entre os jogadores e, particularmente, as jogadoras, mais eufóricas que eles. No entanto, o culminar da euforia, acontecia quando alguém, já cansado ou simplesmente menos atento, deixava cair o cântaro que, em muitos casos, devido ao acidentado do terreno, como acontecia no Terreiro do Fundo, no Vinhô ou na Fonte do Vale, este rebolava, rua abaixo, em ruidosas cambalhotas, fazendo correr muitos dos intervenientes atrás dele. O visado era então "assorriado" com estridentes "iiiiiiiiióóóóssssss" e ficava de fora do jogo.
Contam-nos, também, que havia uma variante deste jogo, mas com uma "púcara" de barro. Aqui, ela era tapada com uma rolha improvisada com trapos atados com um baraço. O que acontece é que quem a deixasse cair, tinha o prejuízo de pagar uma nova "púcara" de barro. 
No entanto, a variante mais popular, engraçada e ruidosa era mesmo, a do cântaro de folha "amolancado" com todo o alarido que provocava à sua passagem. 
Um dos grandes animadores deste ritual, nos idos anos 20 e 30 do século passado era o meu avô paterno, Abílio Luís Amaro, que organizava, todos os anos esta folia do entrudo, ora na Fonte do Vale, ora no Terreiro do Fundo e até no Vinhô, locais onde, noutras ocasiões, organizava outros rituais de animação a que davam o nome de "Bailes e Contradanças", bem como "Desgarradas", acompanhadas com concertinas ou gaitas de beiços.
Deixo aqui a sugestão às associações e à autarquia, para que no próximo Carnaval, por exemplo como uma das "Vivências d'Aldeia" organizarem nos terreiros mais emblemáticos, sessões deste jogo, para retomar a tradição, que entretanto se perdeu, para a passar às gerações vindouras, como uma marca original do nosso "Entrudo" vivido em comunidade, através desta sã convivência que deve ser retomada e preservada.