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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Loriga... A Tradição dos Lanifícios...

Em Loriga perduram, como em nenhum outro lugar, memórias de dois séculos das artes dos lanifícios...
As fábricas fecharam... Muitos dos antigos operários rumaram a outras paragens, à procura de melhor vida. Outros ficaram e olham para as antigas fábricas com a nostalgia de anos e anos, vividos no meio dos fios, da lã, das correias e dos carretos, do ruído dos teares, do vai-vem das lançadeiras...
Outros, foram-se definitivamente para uma viagem sem retorno, mas deixando nos seus descendentes a memória viva, da glória dos tempos áureos desta industria, que cresceu com Loriga e a fez crescer.
Ninguém imagina que possa criar-se no concelho um Museu dos Lanifícios e não se olhe, de imediato, para esta terra que, para além da própria produção têxtil, produziu um exército de operários qualificados que pontificaram nas maiores empresas nacionais do setor. Que teriam sido a FISEL e a VODRATEX, sem os operários Loriguenses? E as fábricas Manuel Dinis e Barros, na região de Lisboa? E outras que seria fastidioso aqui enumerar, que contaram com o "Know How" loriguense para se desenvolverem e inovarem?
Pois bem! Esta publicação, vem a propósito de uma foto e subsequente poema, do meu amigo e conterrâneo José Manuel Alves, sobre a Fândega, uma das primeiras fábricas de Loriga, cujas ruínas, imponentes, teimam, ainda hoje, em não deixar morrer as memórias da indústria que, por dever cívico e historico, não podemos deixar que apaguem da nossa terra.
Está bem patente no seu poema essa marca, bem vincada que, qual seiva, nos corre nas veias da memória coletiva.
Loriga rima com Lanifícios e Lanifícios rima com Loriga e ninguém pode apagar isso do nosso ADN.
Eis a foto e o poema, ambos de uma beleza que só o "Zé Manel", com a sua veia de artista consegue captar. Parabéns Zé Manuel!...



Ruínas de Uma Fábrica de Lanifícios.

Hà muito se calaram os teares
Onde as “lançadeiras” endoidadas
Entrelaçavam  como loucas,
A trama de infindáveis fios de lã
Que a incansável “fiação” enrolava nas canelas
Num estonteante vaivém ritmado.

Há muito desaparecerem os concêntricos tambores
Rodando alinhados ao longo do comprido veio
Que no alto das paredes impulsionavam
As enormes correias de couro
Sedutoras do nosso olhar
Num carrossel ensurdecedor
Que abalava os tímpanos.

Há muito os cardos deixaram de “esgarrar”
As mãos   calejadas e ágeis dos cardadores
Manipulando  experientes
Os fardos de lãs
Chegados das tosquias.

Há muito se esvaiu  o odor carregado das tintas
Que se escapava das caldeiras
E do  “Hidro” da  tinturaria


Há muito desapareceu o olhar
Das fiandeiras, tecelões,cardadores,
Cerzideiras,  Atadeiras
Espinçadeiras, Urdideiras..
Trabalhadores  vestidos de ganga  
Desafiando o azul do Céu na Primavera.
Contrastando com as cores vivas ou apagadas
Dos “cortes” de fazenda
Estendidos a secar como bandeiras 
Esticadas à força 
Na “ Rambola”.

Hoje, apenas te sobraram as paredes nuas
Erguidas num sepulcral silêncio
Só cortado pelo cantar indiferente
Das águas da ribeira
Que antes faziam  girar a tua  alma
Em forma de roda gigante


Autor:
José Manuel Alves

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