Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

Trova Nossa

Este Blog pretende ser um espaço de informação sobre várias matérias relacionadas com a Música e o Som de uma forma geral, mas irá ter uma preocupação muito especial com a nossa música tradicional, por um lado, e, por outro, com as Músicas do Mundo.
Estará, como é óbvio, à disposição de todos os que queiram colaborar nesta tarefa de divulgar a a nossa música e enriquecer, com o seu contributo, este espaço que se pretende de partilha.

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domingo, 22 de dezembro de 2013

Grupo Coral Juvenil ARCO-ÍRIS, o meu mais recente projeto



No presente ano letivo a minha escola viu-se privada de um conjunto de professores que, por via das novas regras de recrutamento, das alterações curriculares e do desinvestimento deste governo na Escola Pública, mesmo pertencendo aos quadros, foram obrigados a submeter-se a concurso e, por via disso, colocados noutras escolas.
Alguns deles desenvolviam projetos na área das expressões e, devido ao seu afastamento da escola, esses projetos, acabaram também, privando uma série de alunos da prática dessas atividades.
Assim, apesar de o meu horário já estar algo sobrecarregado, não quis deixar de dar resposta aos alunos que pertenciam a esses projetos, tendo criado o Grupo Coral Juvenil ARCO-ÍRIS, onde se inscreveram os alunos que gostam de cantar. 
Estamos ainda na fase de criação de repertório, mas já fizemos a nossa estreia na Gala da Entrega dos Diplomas de Mérito, que ocorreu, no passado dia 29 de novembro. 
O grupo interpretou aí três temas apenas, mas tem trabalhado arduamente na preparação de um concerto de Natal/Ano Novo, que terá lugar durante o mês de janeiro.
Nesse concerto, participarão, também dois outros projetos de que sou responsável: o ComCordas - Grupo de Cavaquinhos de Torres Vedras e o Rufos & Roncos - Gaitas e Percussão.
Oportunamente aqui darei notícia desse evento.


A nossa primeira atuação...


Foi apadrinhada pelo patrono da nossa escola, o Sr. Pe. Vitor Melícias.

sábado, 14 de dezembro de 2013

A Aldeia Natal onde não há Pai Natal, por Célia Gonçalves...


Não resisto, neste Natal a publicar o excelente texto da Dra. Célia Gonçalves, Técnica da C. M. de Seia, publicado na Revista Fugas, do Jornal PÚBLICO, sobre a aldeia do momento: Cabeça, Aldeia Natal.
Vale a pena ler e seguir os bons conselhos do texto e visitar Cabeça e a Serra da Estrela, neste Natal.

Clique no link para ler o texto

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Tradições de Loriga - O Jogo do Óculo...


 canela com fio

A tradição industrial de Loriga remonta a meados do Séc. XIX, quando em 1850  aí se instalou a primeira fábrica de Lanifícios, movida a força hidráulica motriz.
As grandes rodas, movidas pela força das águas que desciam das altas serranias da Estrela, acionavam os engenhos que, com grandes correias e uma cadeia de outras rodas, movimentavam toda uma sorte de mecanismos, desde a fiação à tecelagem, da cardação à ultimação, num constante e ruidoso vai-vem, a que as gentes de Loriga se foram adaptando, com o decorrer dos anos.
Terra laboriosa e empreendedora, foi construindo, ao longo do tempo uma comunidade cada vez mais numerosa e, consequentemente, o número de crianças foi gradualmente aumentando, atingindo nos anos 60 do Séc. XX o auge de crescimento, com a Escola Primária a rebentar pelas costuras, com 4 turmas de rapazes e igual número de raparigas. Nenhuma terra da região, excluindo, talvez, a sede do Concelho, teria tantas crianças como Loriga.
As crianças davam um colorido muito especial e um movimento inusitado às suas ruas e vielas e as brincadeiras, tradicionais, recriadas ou mesmo inventadas eram a ocupação preferencial da “pirralhada”.
De entre as muitas atividades lúdicas que, na altura, sobressaíam nas ruas da vila, havia uma que, intimamente ligada aos lanifícios, dependia, em absoluto, dessa atividade industrial. Era o Jogo do Óculo.
Como a necessidade aguça o engenho, a criatividade das crianças levou-as a inventar este jogo, que fazia a síntese de vários outros. Tinha algumas semelhanças com o “chinquilho ou malha”, pois tal como nesse jogo havia um lançamento de um disco, embora muito mais pequeno, o óculo.
Havia também alguma similitude com o berlinde, uma vez que o objetivo era “abafar” o óculo do adversário através da aproximação ao mesmo, à distancia de um palmo.
Este era, no entanto, um jogo muito original e que fazia uso da matéria prima que abundava nas “lãzeiras”, locais onde eram depositados os resíduos industriais, à época.
Antes de mais convém explicar o que é o óculo. Trata-se da base da canela de madeira que era usada nas lançadeiras dos teares. Um disco metálico com um orifício no meio que reforçava a base das canelas, para as proteger quer nas caneleiras, máquinas onde se enchiam as canelas de fio, quer nas lançadeiras que com o seu vai-vem, nos teares iam tecendo as peças de fazenda.

Lançadeiras e canela

Quando as canelas estavam danificadas eram, normalmente, inutilizadas e  depositadas nas “lazeiras”. Era lá que as crianças as recolhiam e tratavam de as despojar dos óculos.
Havia dois tipos de óculos, cujo valor relativo era diferente. É que para além de serem ganhos ao jogo, podiam, também, ser objeto de troca entre as crianças que se dedicavam a este “desporto”.
Assim, os óculos de latão eram os menos valiosos. Na troca valiam um para um. Já os de alumínio, por serem mais pesados e, por isso,  darem alguma vantagem no jogo, valiam três e às vezes quatro dos outros. Algumas das crianças até atribuíam a estes óculos o nome de “bonzura” porque, pelo seu peso e pela diferença de atrito, eram muito bons no arremesso e na maior capacidade de controle e de precisão dos seus movimentos de aproximação aos óculos dos adversários.
O objectivo deste jogo era ganhar os óculos aos adversários. Poderia ser jogado por dois ou mais jogadores.
O jogador ganhava um óculo ao seu adversário quando, ao arremessar o seu, o mesmo ficasse à distância de um palmo ou menos de um palmo, do óculo do seu adversário.

Uma das variantes do jogo é que o mesmo poderia ser jogado com a utilização de uma parede.
Quando jogado sem a utilização de uma parede, era sorteado quem seria o primeiro a arremessar o seu óculo. Este dirigia o disco para um local aleat omo primeiro tendo a finalidade de se aproximarem do mesmoto bons no arremesso e na maior capacidade de controleoriamente à sua escolha.
Os concorrentes seguintes lançavam os seus discos na direção do primeiro, com a  finalidade de se aproximarem do mesmo.
Ganhava aquele que, ao lançar o seu óculo, conseguisse colocá-lo à distância de um palmo, ou menos, do óculo de outro participante. O jogo terminava, sempre que um jogador conseguisse arrebatar os óculos dos outros que estivessem em jogo
Sempre que o jogo recomeçava, quem iniciava os lançamentos era o vencedor do jogo anterior.

Na variante do jogo com a utilização de uma parede, procedia-se, igualmente, à escolha do primeiro concorrente a jogar. Este, colocava-se de frente para  uma parede contra a qual atirava o seu óculo, tentando colocá-lo o mais longe possível da parede, para não dar vantage aos adversarios. Esta variante tinha algumas particularidades que tornavam o jogo um pouco mais elaborado. Os jogadores poderiam utilizar os pés para permitirem uma aproximação mais precisa aos óculos dos adversaries. Para tal colocavam os pés em forma de V, no local onde estava o óculo que pretendiam arrebatar e  arremessando o seu contra a parede ele poderia, mais facilmente aproximar-se pois tinha a barreira formada pelos pés que não deixava o óculo afastar-se desse local.
Como na variante anterior, ganhava o jogo o jogador que conseguisse arrebatar os óculos dos adversarios.
Uma das particularidades mais interessantes desta atividade lúdica era a forma como os óculos eram guardados. Assim, cada participante, arranjava um cordão, um “baraço” como na altura se denominava e os óculos eram enfiados nesse baraço, que era normalmente pendurado à cintura. Como as duas pontas eram atadas, uma na outra, o conjunto dos óculos enfiados no baraço assumia uma forma de chouriça e por isso lhe davamos o nome de “Chouriça de Óculos”.
A grande glória dos jogadores era exibirem as suas “Chouriça de Óculos” e quanto maior fosse o número de chouriças, maior glória era alcançada. Eram exibidas como se de autênticos troféus se tratassem.

domingo, 8 de setembro de 2013

"Costumes"... Sabores, Cultura e tradição... Projeto inovador a abrir brevemente em Leiria



Carla Paulino, Gestora, responsável pela Destino Lider é a mentora deste projeto que não é apenas um restaurante, mas um espaço onde a Cultura e as Tradições Portuguesas vão ter presença constante.
Um espaço a merecer a visita de todos os amantes da boa gastronomia portuguesa, rica e variada, pois as várias regiões poderão ali ser representadas em tempos e momentos diferenciados.

Partilhamos aqui a notícia do Diário de Leiria:



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Cancioneiro da Vila de Loriga... Uma obra de referência na divulgação da nossa tradição oral.

Decorreu hoje, dia 2 de Agosto, no Salão Paroquial de Loriga, que se encheu de gente interessada expectante, a cerimónia de apresentação e  o lançamento do Cancioneiro da Vila de Loriga. Esta cerimónia, contou com a presença da Sra Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Seia e do Sr Presidente da Junta de Feeguesia de Loriga, para além dos autores, António Luis de Brito e Sérgio Brito e do Presidente da Diração da ANALOR, José Mendes



O Cancioneiro da Vila de Loriga, com 263 páginas, mostra-nos 173 cantigas  e cânticos, recolhidos através da tradição oral, na vila de Loriga.
Os autores, António Luís de Brito e seu filho, Pof.  Sérgio Brito, ambos com provas dadas, em muitos anos de atividade musical, compilaram estas cantigas, escrevendo-as, na sua forma mais genuína, tal como foram transmitidas pelas suas fontes. Essas fontes, pessoas que guardam no mais recôndito das suas memórias as cantigas que lhes foram transmitidas pelos seus pais, como são os casos dos meus tios, António Luis Amaro e Maria Irene Gonçalves, ambos na casa dos 80 anos, tal como Adélia Alves de Jesus (Mourita)  e o Fernando Alves Pereira (Requinta). 
As recolhas de António Ascensão, que alimentaram os grupos de música tradicional, Amanhã, Novo Horizonte, Malhapão, Eira da Pedra... foram também outra das fontes.
O Enquadramento Histórico é da autoria do Dr. Augusto Moura Brito, loriguense, com créditos firmados nessa área e o prefácio, da autoria do Doutor António Duarte Amaro, que traça o perfil sociológico de Loriga, campo das recolhas, aqui compiladas.
A capa é da autoria do Dr. José Gonçalves Mendes.
O Enquadramento Etnográfico e a Contextualização das Recolhas, é o contributo que demos para esta obra, tendo também contribuido com a recolha e interpretação de algumas das cantigas.
Partilhamos aqui o texto do Enquadramento Etnográfico, para quem estiver interessado em antecipar um pouco ou "levantar a ponta do véu", abrindo o apetite para a aquisição da obra.

Para consultar o documento  clique  em cima do nome:


quarta-feira, 17 de julho de 2013

"Trad&Sons - Rock Rural" o nascimento de um novo projeto musical...

Desde há uns tempos que o grupo Rufos & Roncos, vem executando repertório que não se enquadra, no âmbito das Gaitas e Percussões, como era proposto na sua fundação. Aos poucos, foi explorando outras sonoridades e outras geografias. Paulatinamente o grupo foi trabalhando mais repertório de palco e menos de animação de rua. 
Assim, aos poucos, alguns dos elementos que nos acompanhavam na animação de rua, deixaram de ensaiar esse repertório e foram perdendo alguma atividade ou passaram a ter essa atividade nos ensaios do Ribombar.
Chegámos, então, à conclusão de que deveríamos separar as atividades e criar um projeto que se dedicasse exclusivamente ao repertório de palco, mesmo que alguns dos elementos se mantivessem ligados a ambos os projetos.
Surgiu, assim, o prjeto "Trad&Sons - Rock Rural"... Trad de tradição. Sons de música, cantigas... A sonoridade do nome remete para tradições e, no fundo, o projeto dedica-se à recolha e divulgação da nossa música de tradição oral, embora através de alguns arranjos, procure a sonoridade Celta e uma abordagem rítmica, próxima das linguagens mais modernas do Rock/Folk.
Para além disso, este novo projeto irá investir em temas originais, em português, procurando ser fiel à matriz tradicional.




Fizemos uma apresentação informal, ainda com  a imagem dos Rufos&Roncos, no passado domingo na Casa da Cultura de Ponte do Rol.
Partilhamos aqui um video do tema original do Grupo, intitulado: "Sonhar Mundos"




Formação:

Beatriz Marques - Voz e percussões
Catarina Margarido - Guitarra, cavaquinho e percussões
Diogo Pereira - Guitarra e percussões
Diogo Pinto Gonçalves - Gaita de Foles, voz, Flauta e percussões
José Gabriel Figueiredo - Gaita de Foles, voz, Flauta e percussões
Renato Silva - Gaita de Foles e percussões

Pinto Gonçalves - Direção Musical, Gaita de Foles, voz, piano, guitarra, cavaquinho, bandolim, acordeão e concertina

domingo, 12 de maio de 2013

Ponte do Rol em Festa...



                        



Decorreram neste fim de semana as Festas em honra do Senhor Jesus dos Aflitos, solenidade que anualmente se celebra em Ponte do Rol. Inicia na Quinta Feira da Ascensão, também conhecida como a Qunta Feira da Espiga e vai até domingo.


Este ano, não fugiu à regra e, desde a passada quinta feira, a animação tomou conta da freguesia.
Nessa noite, a animação esteve a cargo da banda "Os Lords".



Na sexta foi a vez da banda "Chaparral Band", até às 3 h da madrugada, ficando a partir daí o recinto animado por DJ's.





 No Sábado a noite, foi a vez da "Ganda Banda", com a noite a terminar a cargo dos Dj's. Foi a noite da enchente de público, como já vem sendo habitual.





O ponto alto da festa religiosa, aconteceu hoje com a Celebração Eucarística e a majestosa Procissão em honra do Senhor Jesus dos Aflitos.



 


Depois da procissão, a Banda da Juventude Musical Ponterrolense, brindou-nos com mais um excelente concerto.




 Os festejos encerram esta noite com mais um baile animado pela "Ganda Banda", que já na noite anterior se encarregou da animação.






Fotos de: Vitor Abreu, Maribel Silva e Pinto Gonçalves

domingo, 5 de maio de 2013

Lembrando a minha MÃE lembro todas as Mães...



Na passagem de mais um "Dia da Mãe", neste 5 de Maio de 2013, recordo particularmente a minha mãe, que tão cedo partiu, deixando-me órfão do seu carinho, do seu conforto, da suas compreensão, da sua palavra amiga e ponderada, do seu afago, do seu abraço e...  tantas outras coisas que só as mães sabem dar aos seus filhos.
Exorto todos os filhos a valorizarem ao máximo as suas mães, enquanto as tiverem por perto, uma vez que, só sentirão realmente a sua falta, se porventura as vierem a perder.
Assim, neste dia lembro igualmente de uma maneira muito especial as mães dos meus filhos, a mãe do meu neto, as minhas irmãs e a minha sobrinha, que também são mães, as minhas amigas e celebro igualmente, todas as mães dos meus amigos.

E como a melhor forma de celebrar a vida é com música, fiz uma pesquisa e deixo aqui um conjunto de belas melodias dedicadas às mães.
Deliciem-se com estes belos temas






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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Tradições de Loriga... O Jogo da "Púcara Velha"




Das conversas que venho mantendo com gente mais velha, as quais vou registando, para posteriormente extrair os pormenores mais curiosos, retive uma interessante informação sobre o Carnaval de outros tempos em Loriga.
Entre os diversos testemunhos, há os que nos referem um muito peculiar: O Jogo da "Púcara Velha".
Decidimos aprofundar um pouco e ficámos a saber que pelo Carnaval, grupos de pessoas se juntavam nos terreiros e, formando uma roda, se divertiam passando de mão em mão a tal "Púcara Velha", cantando e dançando. A roda ia girando ao ritmo das cantigas e a "púcara" passava de mão em mão, surpreendendo, muitas vezes os participantes menos atentos, que normalmente eram contemplados com o arremesso da "púcara" na sua direção.
Contam-nos ainda que, dias antes do Entrudo, alguns rapazes se juntavam para preparar o utensílio essencial do jogo, um cântaro velho, de folha de flandres, que normalmente iria ao latoeiro para consertar, mas que, neste caso, tinha o seu fim anunciado nesta brincadeira carnavalesca. Encontrado o cântaro eleito, era recheado com pedras e a sua boca fechada à martelada. Como seria de prever, sempre que o cântaro era passado de mão em mão, o seu percurso era bastante ruidoso, causando grande alarido entre os jogadores e, particularmente, as jogadoras, mais eufóricas que eles. No entanto, o culminar da euforia, acontecia quando alguém, já cansado ou simplesmente menos atento, deixava cair o cântaro que, em muitos casos, devido ao acidentado do terreno, como acontecia no Terreiro do Fundo, no Vinhô ou na Fonte do Vale, este rebolava, rua abaixo, em ruidosas cambalhotas, fazendo correr muitos dos intervenientes atrás dele. O visado era então "assorriado" com estridentes "iiiiiiiiióóóóssssss" e ficava de fora do jogo.
Contam-nos, também, que havia uma variante deste jogo, mas com uma "púcara" de barro. Aqui, ela era tapada com uma rolha improvisada com trapos atados com um baraço. O que acontece é que quem a deixasse cair, tinha o prejuízo de pagar uma nova "púcara" de barro. 
No entanto, a variante mais popular, engraçada e ruidosa era mesmo, a do cântaro de folha "amolancado" com todo o alarido que provocava à sua passagem. 
Um dos grandes animadores deste ritual, nos idos anos 20 e 30 do século passado era o meu avô paterno, Abílio Luís Amaro, que organizava, todos os anos esta folia do entrudo, ora na Fonte do Vale, ora no Terreiro do Fundo e até no Vinhô, locais onde, noutras ocasiões, organizava outros rituais de animação a que davam o nome de "Bailes e Contradanças", bem como "Desgarradas", acompanhadas com concertinas ou gaitas de beiços.
Deixo aqui a sugestão às associações e à autarquia, para que no próximo Carnaval, por exemplo como uma das "Vivências d'Aldeia" organizarem nos terreiros mais emblemáticos, sessões deste jogo, para retomar a tradição, que entretanto se perdeu, para a passar às gerações vindouras, como uma marca original do nosso "Entrudo" vivido em comunidade, através desta sã convivência que deve ser retomada e preservada.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Até já, meu irmão!...




Em situações como esta, a nossa memória leva-nos a procurar nos mais recônditos lugares do cérebro, episódios vividos, muitos deles que pensávamos perdidos, mas que continuam lá, bem guardados, para nos dar alento e conforto perante a dor lancinante que nos atormenta.
Recordo cada momento da nossa infância comum, em que eu, mais velho, era sempre responsabilizado pelas minhas e pelas tuas traquinices. Isso nunca fez esmorecer a nossa amizade e cumplicidade, antes a reforçou.
Eras verdadeiramente a minha sombra!
Quantas vezes eu te "enxotava" dizendo que queria ir sózinho e tu, qual "carraça" dizias: - Se tu vais, eu também vou.
Ao chegar a casa, depois de momentos bem vividos de alegres brincadeiras, com muita traquinice à mistura, como em Loriga tudo se sabe, os nossos pais já sabiam o que nós tínhamos "aprontado" e a sentença era sempre a mesma: - A culpa é tua, que és o mais velho! O menino só vai atrás de ti!...
Quantas "trilhas", como o pai dizia, não levei eu pelos dois!!!
Lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que eu decidi abandonar a tarefa que nos tinha sido destinada - apanhar as batatas que o tio Zé Palas andava a arrancar, no quintal da "Manézinha"- e fugir para a ribeira, para o "poço forte". Aproveitei o momento em que fui ao sótão descarregar o "cesto barroleiro" cheio de batatas. larguei o cesto à porta de casa e lá vou eu em direção ao Avenal para ir para ribeira. Quando cheguei ao "poço forte" já tu lá estavas e em tom jocoso dizias: Pensavas que eu ia lá ficar, sózinho, a apanhar as batatas, não?...
Tantos e tantos episódios como este vivemos juntos, com a cumplicidade que nos era particular...
Agora, ao fim destes anos todos, compreendo que tu, mais novo, podias ser mais radical, mais traquina, mais atrevido... porque eu lá estava para te proteger. Tu sabias que podias esticar-te um pouco mais, porque eu, defendia-te sempre, tivesses razão ou não, porque tu eras e continuas a ser o meu irmão querido.
Recordo aquele dia em que tu estavas a  ser sovado em frente à sede do Grupo Desportivo, por ter dito a uma rapariga bem mais velha que ele ia despejar o "elétrico" (nome que dávamos aos baldes  em que se faziam as necessidade e que depois eram despejados nas estrumeiras) eu intrometi-me, disse-te para fugires e fui eu a vítima que todos queriam sovar, mas eu não me importei e, logo que encontrei uma aberta fugi eu também.
Quanta terra não cavámos juntos?... Quantos molhos de paus de mimosa não cortámos e carregámos, para as "callhorras" do Malhapão e do Cabeço?... Quantos molhos de erva não ceifámos para os coelhos?...
O pai dizia-nos para escolhermos bem a erva para não darmos "erva moleirinha" que matava os coelhos. Tu vangloriavas-te, muitas vezes dizendo: - Tanta "erva moleirinha" aqueles coelhos comeram e nenhum morreu por causa disso. Só o trabalho de estar a escolher a erva! Era ceifar, tudo a  eito e pronto!

São esta recordações mais recônditas, que agora me vêm à memória, pois foram os melhores tempos que vivemos juntos.

Depois, cada um tomou o seu rumo...

Mas esta vivências mantiveram-nos sempre unidos, cúmplices e, quando nos encontrávamos, deleitávamo-nos a reviver estas memórias. Ou então, cantávamos...



Power to all our friends... esta canção do Cliff Richard era inevitável, sempre que nos juntávamos numa tertúlia. A duas vozes, foi sempre um coisa que nos deu imenso gozo!
As cantigas do Rui Veloso, do album Mingos e os Samurais, fizeram furor, nas célebres "Noites do Luciano" de que nós fomos os grandes animadores, na senda  da melhor tradição dos "Tripas", mantendo viva  a memória do nosso avô Abilio, que tu mal conheceste, mas que também foi o responsável por grandes momentos de convívio, noutros tempos, na nossa terra. O mais curioso é que os nossos filhos alinhavam nestas tertúlias, com uma satisfação enorme... como se fosse natural... estava-lhe nos genes... o sangue quente dos "tripas" que se pelam por uma boa "festa"!... O Sérgio e a Mariana - a minha menina, como ele lhe chamava - juntavam-se a nós com alegria e energia complementando com as suas bonitas vozes, os "hinos" dessas noites quentes de verão. - Ó Loriga, como tu não há igual... - Sai fino Luciano sai fino... e o Zé Manel com a sua inevitável  - Tenho saudades...
Podia continuar...  a desfiar este rosário de recordações... indefinidamente... mas...
A verdade  pura e dura é que não vai haver mais momentos destes, porque tu não estás mais aqui!
Haverá outros momentos de tertúlia, até porque eu, sendo músico, sou muitas vezes solicitado para eles, mas não haverá mais nenhum contigo.... e isso deixa-me profundamente triste, muito triste, mesmo!...
Mas uma coisa eu posso garantir. Sempre que eu participar numa boa tertúlia, tu estarás comigo, porque eu vou sempre recordar-te como um grande companheiro, um "compincha", a quem dedicarei bons momentos de alegria e animação como tu gostavas de viver.

Entretanto... descansa em paz meu querido irmão! Até já Ismael!...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Quando sentimos orgulho dos nossos ex alunos...

Hoje fui surpreendido, muito positivamente, por um post do Facebook...
A Madalena Mota, minha ex aluna do Colégio Nuno Álvares da Casa Pia de Lisboa, partilhava um vídeo de um outro ex aluno, do mesmo Colégio, Ricardo Saldanha.
Com a Madalena, tal como  com outros meus ex alunos, fui mantendo contactos ao longo do tempo e desde que apareceu o Facebook, o número foi aumentando. Mas do Ricardo, não sabia nada, há já muito tempo, desde que ele deixou de frequentar o Colégio de Santa Clara, onde também foi meu aluno.
O referido vídeo, mostrava o Ricardo na sua mais recente aventura, na India, como voluntário de uma ONG, a CICD-UK, do Reino Unido, que se dedica a escolarizar comunidades de crianças em extrema pobreza.
É com enorme orgulho que aqui partilho os videos que o próprio Ricardo vem colocando no Youtube, porque entendo que estas atividades deve ter o máximo de visibilidade.
Dá que pensar!
Andamos nós, numa correria louca, preocupados, muitas vezes, com ninharias, questões sem importância... 
Zangamo-nos, cortamos relações com os outros, entramos em disputas e discussões estéreis, tantas vezes, por "dá cá aquela palha" e... do outro lado do mundo há gente que, dia a dia, luta por uma sobrevivência, que seria garantida com uma ínfima parte do que desperdiçamos.
Porque não, parar um pouco e ver com atenção os videos partilhados pelo Ricardo...
Talvez eles nos ajudem a encarar de outra maneira este ano que, por cá, se adivinha difícil, mas que perante o cenário retratado, devíamos relativizar e enfrentar as coisas com um outro espírito.

Video 1





Video 2





Video 3


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Lenda de Ponte do Rol






A Antena 1, rádio do grupo RTP, tem uma rubrica diária, que se intitula "Histórias assim mesmo", de Mafalda Lopes da Costa, onde divulga algumas das mais importantes e interessantes histórias e lendas sobre locais, tradições e rituais diversos, espalhados pelo nosso Portugal.
Hoje, coincidentemente, vinha no carro, a entrar em Ponte do Rol, quando sou confrontado com a Lenda de Ponte do Rol, na rubrica de hoje das "Histórias assim mesmo"...
Assim, resolvi procurar o "podcast" e partilhá-lo aqui neste meu espaço de divulgação das nossas memórias e tradições.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tradições de Loriga - Mandamentos da Fome...


Há algum tempo que me dedico a recolher depoimentos, documentos, testemunhos... que me permitam escrever uma espécie de biografia do meu avô paterno Abílio Luís Amaro, mas conhecido pelo Abílio "Tripa",  alcunha que herdara da sua mãe, também ela conhecida como Ana "Tripa". Ao que parece, este alcunha derivaria de um dos seus ascendentes que seria natural do Porto, terra de "tripeiros" e, como tal conhecido por "Tripa".
Mas disso falaremos noutra ocasião e local, quando compilarmos o material necessário para concluir a tal empresa.

Abílio Luis Amaro
Hoje, tendo em conta os tempos que vivemos, gostaria de recordar alguns dos conselhos que o meu avô dava aos filhos, incutindo-lhes valores que hoje, apesar de mais letrados, a maior parte dos pais se revela incapaz de transmitir aos seus descendentes.
Assim, convém, antes de mais, traçar o perfil do homem, cuja história de vida se confunde com a história da agricultura em Loriga, na primeira metade do século XX. 
O "Ti Abílio" era o rendeiro mais disputado de Loriga, no início do século. Tal facto é atestado pela quantidade de tarefas para que era solicitado. Tendo a responsabilidade das terras da família Rocha Cabral, era o "caseiro" da D. Maria,  cuja família detinha a fábrica da Fândega. As malhadas do Tapado e todas as courelas da zona da Fândega, bem como grande parte das terras do Avenal, incluindo as pertencentes à Sra. dos Anjos do Crisóstomo, que iam até aos Peliteiros, eram amanhadas por ele e pelos filhos. O segredo do seu sucesso estava na forma como adubava a terra, tirando desta mais rendimento, do que grande parte dos outros rendeiros. Para os menos avisados e informados destas coisa da agricultura, as rendas, na altura, eram pagas em produtos agrícolas, resultantes das colheitas recolhidas nas terras arrendadas. Ora, quanto maior fosse a produção, maior era o rendimento que os patrões recebiam, mas, também maior era o quinhão que o rendeiro guardava.
O Abílio adubava as terras com estrume de vaca, pois para alem das vacas que pertenciam aos patrões, a quem diariamente os filhos entregavam o leite, possuía e foi aumentando o numero, algumas de sua própria propriedade o que aumentava a quantidade do estrume e, por consequência a fertilidade das terras que amanhava. 
Quando os filhos começaram a ter alguma autonomia para o trabalho, entregava-lhes as tarefas do amanho dessas terras e ia trabalhar à jorna, em outros lugares e para outros patrões, aumentando assim o rendimento disponível da família, que ia ficando cada vez mais numerosa.
Casado com Maria Gonçalves, teve 10 filhos, mas apenas 6 sobreviveram. O Carlos, a Maria Emília, a Maria do Carmo, o António, a Maria Irene e o Fernando. Faleceram, entretanto, o Augusto, a Miquelina, o António e a Isaura.
Homem do campo, rude, mas muito divertido, era o responsável por muitos dos momentos mais animados da Vila de Loriga nessa época. Era ele que organizava os "Bailes e Contradanças" no Terreiro do Fundo, no Cabeço, na Fonte do Vale... Eram tempos em que uma simples Gaita de Beiços ou Realejo, como também lhe chamavam, servia para armar um baile e o "Ti Abílio" era exímio tocador. Os seus filhos foram todos músicos da Banda de Loriga, exigência da avó Ana que estendeu a exigência ao Augusto, filho da sua filha Glória.
Sendo um tempo de grande crise, devido, por um lado, às Guerras Mundiais e, por outro à própria situação da 1ª República e do início da magistratura de Salazar, o Abílio ensinava aos filhos alguns segredos, de boa gestão da economia familiar e assim, destaco hoje os "Mandamentos da Fome", uma lenga-lenga que ele quase obrigou a decorar aos seus rebentos e que a minha tia Irene e o meu tio António, únicos ainda vivos me passaram e considero que têm uma atualidade digna de registar:


Os Mandamentos da fome

Quem ganha um e come dois, nunca guarda nada para depois
Quem ganha dois e come três, nunca guarda nada para a outra vez
Quem ganha três e come quatro, nunca pode viver muito farto
Quem ganha quatro e come cinco, vive sempre muito faminto
Quem ganha cinco e come seis, nunca tem nada para dar aos reis
Quem ganha seis e come sete, nunca tem nada com que se espete
Quem ganha sete e come oito, nunca poderá viver muito afoito
Quem ganha oito e come nove, nunca tem nada nem para dar a um pobre
Quem ganha nove e come dez, no fim da velhice não tem que enfiar nos pés

  
Como se pode verificar, estes "Mandamentos" são um forte incentivo à contenção de gastos e à poupança, valor que, na época era precioso, tendo em conta a escassez de recursos.
Prometo voltar com outras curiosidades das Tradições de Loriga, para partilhar com os mais jovens, conscientes de que, quem não respeita o passado, não compreende o presente e arrisca-se a não ter futuro!