Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

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domingo, 11 de novembro de 2012

Em Noite de S. Martinho... A Tradição das Chocalhadas


A noite de ontem em Sacavém - Foto de Fernando Moura Pinto

Cumpriu-se, mais uma vez a tradição das Chocalhadas de S. Martinho, quer em Loriga, quer em Sacavém pela mão da ANALOR.
Desta vez, em Loriga, com uma maior visibilidade que lhe foi dada pelo facto de ser incluída no programa de animação das Aldeias de Montanha e constituir, mais uma das Vivências d'Aldeia, evento apadrinhado pela Comissão das Marchas de Loriga.
Estes fenómenos de "exaltação da ruralidade" têm cada vez maior importância, quanto mais não seja para revisitar um tempo em que Loriga dependia, em grande medida, da indústria, mas em que o amanho da terra tinha uma importância primordial, na subsistência das famílias numerosas.
Por outro lado, a pastorícia é a atividade, provavelmente, mais ancestral das gentes da serra, pelo que estas práticas rituais, festivas e lúdicas, têm e sempre tiveram o condão de amenizar a rudeza e a dureza a que tais tarefas estavam sujeitas.
Já antes escrevi sobre este ritual das "Chocalhadas" aqui neste Blog:
http://trovanossa.blogspot.pt/2009/01/tradies-da-minha-terra-chocalhada-de-s.html
Mas hoje pretendia aprofundar um pouco mais a razão de ser deste e de outros rituais semelhantes, como a afirmação de uma identidade rural, um tanto incompreensível para as gerações mais jovens, que não tendo vivenciado essa ruralidade, têm dificuldade em compreender a importância que os mesmos assumiam para as comunidades rurais que os praticavam e continuam a preservar.
É importante que os mesmos sejam compreendidos e apreendidos pelas novas gerações sob pena de perdermos todos os laços que nos prendem ao passado  e, com isso, perdermos o fio condutor que nos pode apontar caminhos para o futuro.
Deixo aqui um texto interessante de um autor brasileiro, que encontrei, pesquisando na internet e que me parece explicar a importância da ruralidade e as suas tradições nas sociedades atuais.

A noite de ontem em Sacavém - Foto de Tó Amaro

A ruralidade e as suas tradições na sociedade da globalização
Identifica-se como característica da contemporaneidade não apenas a mobilidade espacial, mas, sobretudo, a simbólica que se expressa pela capacidade do indivíduo de mover-se entre vários universos culturais em diferentes escalas espaço-temporais, e de lidar com um amplo repertório de material simbólico – matéria prima para a construção ou redefinição de identidades sociais. A coexistência desses diferentes códigos simbólicos – num mesmo grupo, indivíduo ou localidade – distingue o cenário social das sociedades contemporâneas. Os indivíduos não pertencem mais a um só grupo ou localidade e, portanto, não têm mais uma única identidade distintiva e coerente. As identidades construídas e permeadas pela lógica cultural pós-moderna são híbridas, maleáveis e multiculturais.
 E, como as possibilidades tecnológicas e sociais de nossa época possibilitam aos indivíduos e aos grupos intervir em escalas territoriais múltiplas, esta construção identitária acaba por internalizar, muitas vezes, as contradições (ou os paradoxos) entre as diversas escalas de ‘pertença’.
Portanto, hoje já não seria mais possível pensar o mundo ou o espaço rural sem admitir que um mesmo espaço é sempre um espaço plural, onde há diferentes formas de se associar ou se identificar com um território (seja através da produção, do emprego, da ocupação, do património, da residência, da residência secundária, do lazer, do turismo).
Esta ausência de identificação ‘imutável’ de um grupo com um espaço conforma a chamada ‘desterritorialização’. Todavia, este fenómeno não anula a referência espacial, antes instaura uma forma de concorrência entre espaços locais ou regionais que devem e se tornam ‘jogadores’ dentro de uma série de ‘jogos’ sociopolíticos e socioeconómicos, fazendo valer suas potencialidades, em que as heranças ecológica, cultural, paisagística, social, ambiental acabam constituindo a diferença valorizada. E, embora estes processos toquem também ao urbano, às pequenas cidades, o mundo rural tornou-se predisposto atualmente a constituir o pólo do passado histórico, da herança, dos valores seguros, da sociabilidade convivial; em suma, a constituir o apoio dum imaginário e de práticas de relocalização.
Nesse sentido, a noção de ‘ruralidade’ pode ser pensada como um conjunto de categorias referidas a um universo simbólico ou visão do mundo que orienta práticas sociais distintas em ambientes culturais heterogénios. O rural não pode ser interpretado, portanto, apenas como a penetração do urbano-industrial naquilo que se definia convencionalmente como rural, mas igualmente pelo consumo, realizado pela sociedade urbano-industrial, de bens simbólicos e materiais e de práticas culturais reconhecidos como próprios do dito mundo rural. Assim, a ruralidade pode ser vista como um processo dinâmico de constante reestruturação dos elementos das culturas locais com base na incorporação de novos valores, hábitos e técnicas. Tal processo implicaria um movimento bidirecional no qual se pode identificar, de um lado, a reapropriação de elementos das culturas locais a partir de uma releitura possibilitada pela emergência de novos códigos e, no sentido inverso, a apropriação pelos urbanos de bens culturais e naturais do mundo rural, produzindo uma situação que não se traduz necessariamente pela destruição das culturas locais, mas que, ao contrário, pode vir a contribuir para alimentar as sociabilidades e reforçar os vínculos com a dimensão local.
José Marcos Froehlich


Partilho aqui o video de José Fernandes com imagens da noite de ontem em Loriga:


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