Nos passados dias 7,8 e 9 de setembro, colaborámos na realização deste Círio de Vila Chã e Casais Galegos à Misericórdia. Vila Chã e Casais Galegos são duas localidades que pertencem à Freguesia de Ventosa, no concelho de Alenquer. As gentes destes locais, mantêm esta tradição desde o remoto ano de 1253, há, portanto 762 anos.
Capela de Nossa Senhora da Misericórdia
Casal da Misericórdia, Moita dos Ferreiros - Lourinhã
Mas o que levará esta gente a manter esta tradição durante tanto tempo? E porque começaram a fazer isto? Que razões levam as pessoas a deslocar-se de um local no concelho de Alenquer, até um outro, localizado no concelho da Lourinhã, já muito próximo do Bombarral, com carros e tratores enfeitados e, ao chegar cumprir um ritual secular, permanecer aí durante dois dias, dormindo ao relento e regressar, cumprindo outras partes do ritual, dois dias depois?
Vamos contar um pouco da história, que faz parte de um prospeto de divulgação deste círio, publicado pela organização da edição de 2015, os irmãos, Maria Albertina Apolinário e Luis António Apolinário:
" Ao Santuário da Nossa Senhora da Misericórdia, acorreram, desde tempos remotos, oito círios que percorriam grandes distâncias, em devoção a Nossa Senhora, em cumprimento de promessas antigas. São eles: O Círio de Vila Chã e Casais galegos, Círio da Aldeia Grande, Círio dos Penedos, Círio de Vila Verde dos Francos, Círio da Labrugeira e, por fim, o Círio do Vilar, que, em peregrinação, rumavam anualmente, para aqui celebrar, todos os anos, as festividades da Natividade de Nossa Senhora, nos dias 7,8 e 9 de setembro. Em tempos houve, também, o Círio de Peniche, que se deslocava em romaria a esta capela, pela Páscoa, celebrando o Divino Espírito Santo.
Hoje em dia, co esforço, dedicação e muita devoção, são cinco os círios que realizam estas peregrinações anuais.
Esta tradição que, como referimos, tem já 762 anos, teve o seu início com o Círio de Vila Chã e Casais Galegos, que, por razões de escassez de água para as suas sementeiras, foram pedir auxílio a esta Senhora. Pensa-se que, por volta de 1600, por influência de uma epidemia fatal, tenham surgido os Círios de Vila Verde dos Francos e da Labrugeira. Mais tarde, por volta de 1713, em cumprimento de uma promessa antiga, organiza-se o Círio da Aldeia Grande.
Durante séculos a peregrinação realizada por estes cinco círios, era efetuada em juntas de bois e carroças, percorrendo percursos bastante atribulados, demorando um dia e 3 ou 4 horas de viagem. Fruto da evolução, estes hábitos foram-se alterando, sendo o percurso, atualmente, efetuado por tratores agrícolas e carrinhas de caixa aberta, reduzindo significativamente a duração para cerca de duas horas de caminho."
Vamos explicar melhor a concretização deste ritual.
O círio começa com o peditório, algum tempo antes. No caso concreto, começou a 30 de agosto, com os festeiros e o gaiteiro, como é de tradição a percorrerem as localidades envolvidas, pedindo para o círio e aceitando as encomendas dos bolos de ferradura.
O peditório foi realizado cinco lugares, Freixial de Cima, Freixial do Meio, Parreiras, Casais Galegos e Vila Chã. Começámos às 9h e acabámos perto das 21h, já de noite.
No dia 5 de setembro, sábado, mais uma etapa. Foi a"Entrega dos Mordomos". Trata-se de uma tradição muito interessante, na qual os responsáveis pelo círio, que no dia do peditório aceitaram encomendas dos Bolos de Ferradura (aqui apelidados de Mordomos), típicos da região Oeste, marcam um dia para a entrega dos mesmos e, nesse dia, em pontos chave de cada localidade, fazem a sua distribuição, sempre acompanhados do gaiteiro.
O curioso é que, para além dos bolos, distribuem, também, vinho que irá servir para acompanhar a degustação dos mesmos. A distribuição começou às 18h, em Freixial de Cima, seguido de Parreiras e Casais Galegos e terminou já noite dentro, pelas 22h, em ambiente de festa, na localidade de Vila Chã.
E o dia do círio chegou!... No dia 7 de Setembro, segunda feira, o Círio de Vila Chã, em conjunto com o de Casais Galegos e ainda o de Aldeia Grande, rumaram à Misericórdia, onde ficaram até dia 9, quarta feira.
Organizou-se o Cortejo em Vila Chã e seguiu em procissão até à saída da localidade, em direção a Casais Galegos. Aqui, juntou-se o cortejo desta localidade e ambos seguiram até à Aldeia Grande.
O Círio da Aldeia Grande, bem maior que os que acompanhávamos, reunia um significativo número de carros, todos engalanados. seguramente umas duas dezenas de carros que seguiram em procissão com as bandeiras e os pendões à frente do cortejo, ao toque do gaiteiro, com temas religiosos, seguiu até às localidades vizinhas de Casais da Valentina e Valentina, também elas integrantes deste círio da Aldeia Grande.
Depois... foi a animação e o almoço em jeito de piquenique.
Vamos explicar melhor a concretização deste ritual.
O círio começa com o peditório, algum tempo antes. No caso concreto, começou a 30 de agosto, com os festeiros e o gaiteiro, como é de tradição a percorrerem as localidades envolvidas, pedindo para o círio e aceitando as encomendas dos bolos de ferradura.
O peditório...
O peditório foi realizado cinco lugares, Freixial de Cima, Freixial do Meio, Parreiras, Casais Galegos e Vila Chã. Começámos às 9h e acabámos perto das 21h, já de noite.
No dia 5 de setembro, sábado, mais uma etapa. Foi a"Entrega dos Mordomos". Trata-se de uma tradição muito interessante, na qual os responsáveis pelo círio, que no dia do peditório aceitaram encomendas dos Bolos de Ferradura (aqui apelidados de Mordomos), típicos da região Oeste, marcam um dia para a entrega dos mesmos e, nesse dia, em pontos chave de cada localidade, fazem a sua distribuição, sempre acompanhados do gaiteiro.
Entrega dos "Mordomos"...
O curioso é que, para além dos bolos, distribuem, também, vinho que irá servir para acompanhar a degustação dos mesmos. A distribuição começou às 18h, em Freixial de Cima, seguido de Parreiras e Casais Galegos e terminou já noite dentro, pelas 22h, em ambiente de festa, na localidade de Vila Chã.
E o dia do círio chegou!... No dia 7 de Setembro, segunda feira, o Círio de Vila Chã, em conjunto com o de Casais Galegos e ainda o de Aldeia Grande, rumaram à Misericórdia, onde ficaram até dia 9, quarta feira.
Organizou-se o Cortejo em Vila Chã e seguiu em procissão até à saída da localidade, em direção a Casais Galegos. Aqui, juntou-se o cortejo desta localidade e ambos seguiram até à Aldeia Grande.
O Círio da Aldeia Grande, bem maior que os que acompanhávamos, reunia um significativo número de carros, todos engalanados. seguramente umas duas dezenas de carros que seguiram em procissão com as bandeiras e os pendões à frente do cortejo, ao toque do gaiteiro, com temas religiosos, seguiu até às localidades vizinhas de Casais da Valentina e Valentina, também elas integrantes deste círio da Aldeia Grande.
Pelo caminho há uma paragem obrigatória na capela de Casal Novo dedicada ao Imaculado Coração de Maria. Aqui, para além de se fazerem algumas orações individuais e o gaiteiro tocar músicas de louvor a Nossa Senhora, alguns dos habitantes locais preparam um lanche que oferecem aos romeiros dos círios.
Capela do Imaculado Coração de Maria
Casal Novo, Moita dos Ferreiros - Lourinhã
Chegados à localidade de Casal da Misericórdia, na Freguesia de Moita dos Ferreiros, concelho da Lourinhã, onde se situa a capela, cada círio organiza a sua procissão que, após dar três voltas à capela, termina com a entrada nesta, para que os romeiros possam agradecer as graças concedidas ou cumprindo as suas promessas ou pedir outras graças e bênçãos a Nª Srª da Misericórdia.
Depois dos compromissos religiosos vem a festa e a animação, sempre presentes nestas ocasiões em que as pessoas se reúnem, em volta de tradições e rituais de caráter mais espiritual.
A animação durou até à noite e, no caso do círio da Aldeia Grande, foi pela noite dentro.
O dia seguinte, dia 8 de setembro, foi o dia da Missa Solene. Era o dia da Natividade de Nossa Senhora e o cântico de Entrada, bem como o Cântico final, dedicados a Maria, foram acompanhados com órgão e gaitas de foles. Foi lindo!...Depois... foi a animação e o almoço em jeito de piquenique.
No dia 9 de setembro era o regresso. Chegava ao fim o Círio de Vila Chã e Casais Galegos. Após a missa, ainda na Misericórdia, os círios regressam às suas localidades de origem.
Era, também, o dia da "Entrega da Bandeira" aos "Festeiros" do próximo ano.
Este ano coube a Vila Chã e no próximo ano a Casais Galegos.
Começámos com alguma animação junto à Associação de Vila Chã.
Este ano coube a Vila Chã e no próximo ano a Casais Galegos.
Começámos com alguma animação junto à Associação de Vila Chã.
Depois, lá fomos em procissão, ao som de gaita de foles, com repertório religioso, de Vila Chã até Casais Galegos, para entregar a "Bandeira" (pendão do círio, com a imagem de Nª Srª da Misericórdia), na casa da "festeira" do próximo ano.
Foi uma experiência muito interessante e gratificante na qual participámos na qualidade de gaiteiro.
Mais uma tradição que vivenciámos e que aqui divulgamos, com o propósito de ajudar a preservar e incentivar os intervenientes, para que não se percam na voragem destes tempos, pouco propícios a rituais baseados nos valores espirituais, de um povo que tem sobrevivido suportado nestes valores.
1 comentário:
É tarde que começo a frequentar os círios. Além do mais, é óptima maneira de conhecer o nosso concelho e os que, de tão próximos, fazem parte da nossa vivência. Para o próximo ano, conto não falhar este. Concordo com as palavras finais do Joaquim. É a minha maneira de ver, também.
JL
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