Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

Trova Nossa

Este Blog pretende ser um espaço de informação sobre várias matérias relacionadas com a Música e o Som de uma forma geral, mas irá ter uma preocupação muito especial com a nossa música tradicional, por um lado, e, por outro, com as Músicas do Mundo.
Estará, como é óbvio, à disposição de todos os que queiram colaborar nesta tarefa de divulgar a a nossa música e enriquecer, com o seu contributo, este espaço que se pretende de partilha.

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sábado, 25 de dezembro de 2021

O Bacalhau da minha Consoada de 2021...

 O bacalhau da minha consoada...

 

Desta vez decidi fugir ao habitual bacalhau cozido com batata e couve.
Os ingredientes estão  lá, mas 2021 foi altura de inovar. Partilho então  com os meus amigos os passos desta aventura na cozinha.
Ingredientes:
Batata miúda assada com casca 
Cebola de Touvedo
Couve Portuguesa  biológica, de Loriga
Cachaço  de Bacalhau
Broa de Loriga
Azeite do Alentejo
Preparação:
Depois da assadas as batatas cortam-se às  rodelas, rega-se o fundo da travessa de ir ao forno com azeite e espalham-se de forma a cobrir toda a superfície. As couves, depois de cozidas, cortam-se em tirinhas, salteiam-se com um pouco de azeite e alho e colocam-se na travessa por cima das batatas. O bacalhau depois de cozido é desfiado e salteado com cebola. Depois coloca-se na travessa da mesma forma que as camadas anteriores. Por fim, espalha-se a broa e rega-se com azeite.
Para dar uma nota mais artística à travessa, cortei dois ovos cozidos às rodelas e espalhei por cima da broa e ralei um pouco de cenoura para colorir a superfície.
Et Voilá!!!
Documentei cada passo com fotos que aqui partilho:



 










Para sobremesa soube muito bem o Cheesecake da Mónica Silva.












segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Coleção/Exposição "Bombos Com Arte"

Há cerca de cinco anos numa das aulas de Cordofones que leciono na AUTITV - Universidade da Terceira Idade de Torres Vedras surgiu a ideia de  uma das minhas alunas, Edite Melo, pintora conceituada, pintar um bombo que eu tinha construído. Isto no seguimento de uma conversa sobre a exposição 70 Cavaquinhos - 70 Artistas. Também a Helena Pina, outra das minhas alunas se ofereceu para pintar um bombo se eu lhe fornecesse o dito.

Construí os dois bombos e, logo ali me surgiu a ideia de convidar mais pessoas amigas, que eu sabia que pintavam ou tinham pelo menos esse gosto, para dar corpo à ideia que acabara de nascer. Fazer uma Coleção/Exposição de bombos pintados ou decorados a que iria chamar "Bombos Com Arte".

Os amigos foram aparecendo e os bombos também e assim foi surgindo a coleção que agora está pronta para ser exposta. Em suma, temos 18 Bombos - 18 Artistas

Salienta-se a forte presença de artistas loriguenses: António Matias, José Mendes, Otília Rodrigues, Fernanda Dias, Vanda Oliveira, Lurdes Moura Pinto e Joaquim Pinto Gonçalves. Por outro lado, a Lourdes Silva e o Armindo Reis têm referências a Loriga nos seus bombos.

Para finalizar a Coleção, pedi de novo à Edite Melo para pintar, desta vez um tambor Xamânico  que pelo facto de se poder pendurar, poderia levar o nome da Exposição. Ela acabou por pintar toda a pele e colocou o nome da Exposição numa tela. Ganhou-se assim mais uma obra de arte para esta Coleção/Exposição.

Brevemente será exposta num espaço em Torres Vedras que virá a ser a sede da AnimEsp - Associação Cultural. Depois poderá viajar pelo país pelas localidades que tenham grupos de bombos e queiram mostrar uma outra arte concretizada com este instrumento que estaria destinado a uma arte diferente.

Apresentamos os Bombos e os Autores:

Bombo nº 1 - Edite Melo

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Bombo nº 2 - Helena Pina

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Bombo nº 3 - Helena Felgueiras

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Bombo nº 4 - Lourdes Silva

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Bombo nº 5 - António Matias

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Bombo nº 6 - José Mendes

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Bombo nº 7 - Célia Duarte

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Bombo nº 8 - Ana Temudo

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Bombo nº 9 - Ana Maria Monteiro

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Bombo nº 10 - Joana Monteiro

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Bombo nº 11 - Armindo Reis

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Bombo nº 12 - Domingos Broa

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Bombo nº 13 - Otília Rodrigues

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Bombo nº 14 - Fernanda Dias

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Bombo nº 15 - Vanda Oliveira

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Bombo nº 16 - Lurdes Moura Pinto

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Bombo nº 17 - Manuela Lores

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Bombo nº 18 - Pinto Gonçalves

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segunda-feira, 8 de novembro de 2021

O Povo Que Ainda Canta Episódio 21 - Páscoa em Loriga

Nunca é demais recordar as coisas que nos marcam! 
Esta recordação é um marco para Loriga e para a divulgação das suas tradições musicais.



Em Abril de 2015, mais concretamente entre 2  e 5 de abril, desloquei-me a Loriga com o Tiago Pereira e a Telma Morna, posteriormente com o apoio da Cláudia Faro Santos, para gravar alguns videos da Ementa das Almas, mais concretamente dos Martírios, que ocorriam na Sexta Feira Santa, dia 3, para o Projeto: A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria. O material gravado foi tão apreciado e, por se tratar de Música Religiosa Popular, o Tiago sugeriu que uma parte das gravações poderiam integrar um episódio do Programa: O Povo Que Ainda Canta. 
E assim surgiu o Episódio 21 - Páscoa em Loriga que pode ser visto no link que publicamos e que pode ser visto a todo o tempo  em: https://www.rtp.pt/play/p1687/e198007/o-povo-que-ainda-canta
depois é só procurar o episódio 21 quer na versão Rádio, quer na versão televisão


Salientamos que este é o único episódio dedicado a uma localidade. Todos os outros são dedicados a uma região. Alvoco da Serra, a freguesia vizinha de Loriga, é também contemplada com algumas gravações, muito por causa das diferenças de rituais religiosos na mesma quadra, mas que marcam a identidade de cada comunidade.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Celebrar a Vida... 100º Aniversário do Padre Bernardo Terreiro do Nascimento

 Hoje foi um dia estranho!...

Preparava-me para partir para Lisboa, onde me esperava uma celebração solene no Mosteiro dos Jerónimos para celebrar os 100 anos do meu antigo professor de música do Seminário da Guarda, o talentoso Padre Bernardo Terreiro do Nascimento.

Não tinha , ainda, entrado na autoestrada quando toca o telefone. Era o amigo Padre Melícias, patrono do agrupamento que dirijo, com uma notícia de arrepiar. Informava-me que o Presidente da Câmara de Torres Vedras, Carlos Bernardes, acabava de ser encontrado sem vida em sua casa. Não queria acreditar no que ouvia! Após alguma troca de palavras eu disse para onde ia e o Padre Melícias diz: - Reza lá uma Avé Maria pela alma dele que ele era um bom homem. Assim fiz. Quando cheguei aos Jerónimos a celebração não havia começado e aproveitei para cumprir o prometido. Não só rezei uma Avé Maria, como também aproveitei para rezar um pouco mais pela alma deste irmão que partia com muito sofrimento associado.



Mas, o dia hoje era de celebrar a vida! A vida deste homem notável com quem me cruzei nos anos 70, logo após a revolução. Foi meu professor de música no Seminário da Guarda. Um homem com uma sensibilidade notável, um músico de eleição, como o prova a sua vasta obra. Como bem disse o D. Manuel Felício, Bispo da Guarda, durante a celebração, o Padre Bernardo, tal como Filipe e Tiago, apóstolos qua a igreja hoje celebra, foi também ele apóstolo que evangelizou através da sua obra musical. 


A convocatória da Associação dos Antigos Alunos dos Seminários do Fundão e Guarda já deixava antever uma celebração à altura do homenageado.

Caros Companheiros
Antigos Alunos dos Seminários do Fundão e da Guarda
O companheiro Pe. Bernardo Terreiro comemora o seu centésimo aniversário no próximo dia 3 de maio.
100 ANOS - MAGNÍFICO.
O evento será assinalado com uma Celebração Eucarística, presidida por V. Exª Rev.ma, D. Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda
no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, no próximo dia 03 de maio pelas 17 horas.

Quem não se lembra do Sr. Pe. Bernardo Terreiro
Sacerdote da Diocese da Guarda desde 1947, apaixonado pela música e composição, dedicou essa paixão ao ensino e sobretudo à beleza litúrgica das
celebrações eucarísticas, dirigindo Coros por todo o país, mas sobretudo por toda a Beira Interior.
Compôs vários livros de música com cânticos que enaltecem as nossas igrejas e celebrações.
Fátima brilha mais longe e recordará para sempre o nosso Pe. Bernardo quando entoa o conhecidíssimo "MAGNIFICAT"
PARABÉNS, Sr. Pe. Bernardo 
Com Votos de muitos mais anos
Vividos na alegria e felicidade da família
e a Graça de Deus. 

A sua obra, no entanto, não se resume ao canto litúrgico, embora seja esse o campo onde mais se notabilizou.

Mas o Padre Bernardo colaborou com muitos colegas, párocos de diversas freguesias que, preocupados com a preservação de certas melodias populares que corriam o risco de se perder, as gravaram para ele as escrever e assim preservar esse património para as gerações vindouras.

É exemplo disto a publicação pelo Padre Jaime Pereira, de Alvoco da Serra, de, pelo menos, dois volumes do Cancioneiro Alegrias Populares, com partituras da autoria do Padre Bernardo.



Celebração 100 anos Pe. Bernardo - Magnificat

A mensagem que passou aos seus alunos era uma mensagem de respeito pelo humanismo e pelos valores culturais, onde a música tinha um lugar preponderante, mas também outras formas de arte eram apontadas como rituais de celebração à obra do criador. De facto, evangelizou através da sua capacidade e inspiração musical, espalhou o seu talento pelas instituições que serviu e seduziu pela sua sensibilidade e sentido de humor quantos se cruzaram com ele. 




O Jornal A Guarda noticía a homenagem de hoje com o seguinte texto que aqui partilhamos: 

"Celebração de Acção de Graças decorre no Mosteiro dos Jerónimos

O padre Bernardo Terreiro do Nascimento comemora 100 anos de vida, na próxima segunda-feira, dia 3 de Maio. A data será assinalada com uma Missa de Acção de Graças, na Igreja do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, presidida pelo Bispo da Guarda, D. Manuel da Rocha Felício, às 17.00 horas. A festa estava preparada para Almeida, mas a pandemia obrigou a alterar os planos iniciais. Apesar do contratempo, a família não quis deixar de assinalar uma data tão sugestiva e importante na vida de Bernardo Terreiro. Natural de Almeida, foi ordenado sacerdote no dia 7 de Setembro de 1947, depois de ter frequentado os seminários diocesanos do Fundão e Guarda. Na sua longa vida também exerceu o sacerdócio através da música, especialmente religiosa, compondo centenas de obras para orfeão. Fez o curso de Conservatório Nacional do Porto e vários cursos no país e no estrangeiro. Como professor de música dirigiu os coros dos Seminários do Fundão e Guarda, da Escola Superior do Instituto Politécnico da Guarda, da Covilhã, do Centro Cultural da Guarda e do Coro Etnográfico de Almeida. “Fui sempre seduzido pela Harmonia desde criança e a condução de coros, que me foi confiada ao longo da vida, criou em mim uma paixão”, escreveu no livro ‘Salmos Harmonizados para Orfeão’.Compôs vários livros de música, entre os quais ‘Cantando ao Senhor da Vida – Cânticos para celebrações’, ‘Salmos Harmonizados para Orfeão” e “Fátima e a Eucaristia”. O padre Bernardo Terreiro foi homenageado pelo Centro Cultural da Guarda, em 2011, por ocasião dos seus 90 anos de vida. Acérrimo defensor de Almeida e das suas gentes, Bernardo Terreiro foi, durante décadas, correspondente do Jornal A GUARDA, fazendo eco dos principais acontecimentos deste concelho raiano."

Após a Eucaristia foram cantados os parabéns e o aniversariante proferiu algumas palavras que ilustram a qualidade de vida e a lucidez que ainda mantém.


Celebração 100 anos Pe. Bernardo - Parabéns 
 
Uma das suas sobrinhas leu uma mensagem do Padre Álvaro, já falecido e irmão do Padre Bernardo sob a forma de acrónimo construído com o nome do Padre Bernardo. Esse texto foi destribuido no final da cerimónia a todos os presentes numa pagela que aqui publicamos.




Celebração 100 anos Pe. Bernardo - Mensagem Final



No final da cerimónia troquei algumas palavras com o Padre Bernardo e tive, mais uma vez uma prova da sua lucidez e do seu sentido de humor. 

Ao questioná-lo sobre um episódio ocorrido em 1975, demostrou que na sua memória retinha ainda as lembranças desse tempo longínquo. Perguntei-lhe como tinha ele convencido o Sr Bispo da Guarda, ao tempo o D. Policarpo da Costa Vaz, considerado um dos mais conservadores, a autorizar que se celebrasse uma " Missa Rock" na Sé da Guarda. ele respondeu com uma vibrante gargalhada dizendo:

-Até hoje eu ainda não consegui descobrir como o fiz. Mas que se fez a missa, com guitarras e bateria, fez-se sim senhor!

De facto, habituei-me a admirar não só o músico, não só o padre, mas sobretudo o Homem!

Obrigado Padre Bernardo por ter cruzado a minha vida! 100 anos não é para todos é só para alguns privilegiados e quis Deus que o senhor fosse um deles!

Parabéns pelos seus 100 anos!


 


terça-feira, 13 de abril de 2021

Loriga e os Bairrismos...

Publico aqui o artigo que escrevi e foi publicado na edição 143-fevereiro/março do Jornal Garganta de Loriga. Uma reflexão sobre a Loriga de hoje e as expectativas para o futuro.


Loriga e os Bairrismos…

É hora do Bairrismo de Ação!...

Ao pesquisar a palavra “Bairrismo” no dicionário encontrei três tipos de classificação da palavra:

1-afeição de uma pessoa ao seu bairro ou à sua terra

 

2-apego excessivo de uma pessoa ao seu bairro ou à sua terra, que a leva a sobrevalorizá-los em relação aos demais

 

3-figurado, depreciativo modo de pensar e/ou agir que revela estreiteza de perspetivas ou interesses; paroquialismo

 

Nesta minha reflexão gostaria de partilhar convosco a extensão deste termo e a forma como nós, os loriguenses, o usamos ou interpretamos nas mais diversas ocasiões.

Antes de mais, devo dizer que, fazendo jus à interpretação do dicionário, logo aí encontramos uma justificação para usar o plural e não o singular. Sim. Porque não há o “Bairrismo”… Há… “Bairrismos”.

Encontrar um loriguense que não se considere “Bairrista” é como “procurar agulha em palheiro”, adágio popular que aprendi em “pirralhito” com o meu avô, o Ti Joaquim “Faztudo”.

Todos nós ficamos “enchicharrados” quando vemos a nossa terra ser divulgada e louvada nos meios de comunicação social. Todos nos orgulhamos da “Suiça Portuguesa” ou “Princesa da Serra” ou mesmo “Rainha da Estrela”, títulos que ao longo do tempo a nossa Loriga foi acumulando.

Sabemos todos muito bem (digo eu) que a Loriga de hoje está longe dos tempos áureos do auge da Indústria dos Lanifícios, que fez da nossa terra um dos expoentes máximos do têxtil na Beira Serra.

Nos anos 60 do século passado nasciam em Loriga 200 crianças por ano. Nesta altura nem em 10 anos conseguimos esse número. Por isso, é preciso perceber que a nossa terra, pese embora os diversos “Bairrismos”, tem hoje uma grandeza, uma importância e uma dimensão que nada tem a ver com esses outros tempos.

Perguntar-me-ão o que é que isto tem a ver com “Bairrismo”?

À primeira vista, pode parecer que não há qualquer nexo de causalidade. Mas, já lá iremos e vão ver como tudo se encaixa.

Ouvi há uns anos um conterrâneo que teve responsabilidades autárquicas dizer, talvez de uma forma exagerada, que a “massa cinzenta” tinha fugido de Loriga e que por isso Loriga se degradava. Esta afirmação pode ser interpretada por uns como “Bairrismo” e pelos seus discordantes, como uma grande falta do mesmo.

Depois há, ainda, o “Bairrismo” dos loriguenses da diáspora “versus” o “Bairrismo” dos que ficaram em Loriga. Desde há muito que estes “Bairrismos” se digladiam ao ponto de surgirem expressões nada abonatórias como… “os filósofos do Trancão” e outras pérolas do género.

Recuando de novo no tempo ouviam-se expressões como: “Loriga é a capital dos barrocos!” Hoje, pelo contrário, ouve-se muitas vezes elogiar a capacidade empreendedora e a união das gentes dos ditos “barrocos”, constatando que a “velha capital” não consegue igualá-los mesmo com tantos “Bairristas” no seu seio. O exemplo do evento “Cabeça Aldeia Natal” é um dos mais apontados como paradigma desta realidade, mas o “Solstício” de Alvoco da Serra e outros eventos de outras aldeias também merecem destaque como expoentes do bairrismo das suas gentes.

Atenção!... Até agora apenas reavivámos a memória para enumerar um conjunto de factos e realidades facilmente constatáveis por quem ande um pouco atento. Não há aqui qualquer juízo de valor, pelo menos por agora.



Normalmente há a tentação de encontrar responsabilidades pela degradação das condições de vida e desertificação de Loriga em fatores externos. Mas estes não são os únicos responsáveis por isso. O abandono do interior pelos sucessivos governos, a excessiva centralização na sede do concelho da maioria dos (poucos) investimentos, são tudo realidades irrefutáveis.

Mas, como dizia Kennedy e adaptando a citação à realidade que pretendo retratar: “Não perguntes o que a tua terra pode fazer por ti, pergunta antes o que é que tu podes fazer pela tua terra.” Não basta dizer que se é bairrista, é preciso praticar o bairrismo! E este é que é o mote. Esta é a pergunta que todos os loriguenses que se julgam ou intitulam de bairristas deverão fazer a si próprios. O bairrismo de bancada não serve de nada à nossa terra! É preciso “meter as mãos na massa”! É preciso ação!

Espero que esta minha reflexão não seja interpretada como sobranceria, crítica pessoal ou mesmo uma posição de antagonismo contra qualquer instituição de Loriga.

Apenas pretendo lançar dados para uma reflexão coletiva para um “toque a reunir” que é urgente, para que não se percam algumas das marcas que nos identificam e nos diferenciam.

As associações de Loriga estão moribundas! A crise de dirigentes associativos é uma dura realidade que urge resolver. Dir-me-ão: - Não há gente em Loriga! Os dirigentes são os mesmos em várias instituições. As pessoas cansam-se mais.

Os grandes eventos de Loriga também se ressentem desta crise por falta de gente para os dinamizar.

Tudo isto é verdade. No entanto, se continuarmos a lamentar-nos a situação continuará a degradar-se. Há que encontrar caminhos, incentivando e formando os mais jovens para assumir, também eles, algumas responsabilidades nessa área. Os mais experientes têm o dever de deixar o seu legado aos mais jovens incentivando-os a participar e a praticar a cidadania ativa.

A Diáspora loriguense tem também uma responsabilidade para com a sua terra natal. Hoje temos muitos loriguenses residentes nas áreas metropolitanas que estão aposentados e com tempo para se dedicar a outras atividades. Porque não assumir algumas responsabilidades associativas em Loriga? Hoje as distâncias estão muito encurtadas e a comunicação está muito facilitada pelas redes sociais. Tal como é possível o teletrabalho também é possível o dirigismo associativo à distância. Poderá ser uma saída para a crise, desde que não se perca de vista a responsabilidade de estar presente quando tal for necessário. Há que praticar o “Bairrismo” de forma ativa, fazendo parte da solução.

Há muito tempo que o diagnóstico está feito. Todos sabemos qual é o problema. Temos é que nos focar na solução. E a solução passa por um compromisso de todos os que podem acrescentar. E são muitos.

Loriga tem cada vez menos pessoas residentes, por isso, todos, mas mesmo todos, sem divisões e sem cobranças temos o dever de participar na mudança de atitude e mudar o paradigma de “Bairrismo” de palavras para um “Bairrismo” de ação!

Todos somos poucos para levar a cabo esta mudança!

 Como dizia o meu avô Joaquim, pessoa muito sábia: “Mesmo que não consigamos melhorar se despiorarmos um pouco, já estamos a fazer muito.”

Loriga precisa de todos os “Bairristas”, mas precisa muito mais de AÇÂO!

 

Pinto Gonçalves