Publico aqui o artigo que escrevi e foi publicado na edição 143-fevereiro/março do Jornal Garganta de Loriga. Uma reflexão sobre a Loriga de hoje e as expectativas para o futuro.
Loriga e os Bairrismos…
É hora do Bairrismo de Ação!...
Ao pesquisar a palavra
“Bairrismo” no dicionário encontrei três tipos de classificação da palavra:
1-afeição de uma pessoa ao seu bairro ou à
sua terra
2-apego excessivo de uma pessoa ao seu bairro ou à sua
terra, que a leva a sobrevalorizá-los em relação aos demais
3-figurado, depreciativo modo de pensar
e/ou agir que revela estreiteza de perspetivas ou
interesses; paroquialismo
Nesta minha reflexão gostaria de
partilhar convosco a extensão deste termo e a forma como nós, os loriguenses, o
usamos ou interpretamos nas mais diversas ocasiões.
Antes de mais, devo dizer que,
fazendo jus à interpretação do dicionário, logo aí encontramos uma justificação
para usar o plural e não o singular. Sim. Porque não há o “Bairrismo”… Há…
“Bairrismos”.
Encontrar um loriguense que não
se considere “Bairrista” é como “procurar agulha em palheiro”, adágio popular
que aprendi em “pirralhito” com o meu avô, o Ti Joaquim “Faztudo”.
Todos nós ficamos
“enchicharrados” quando vemos a nossa terra ser divulgada e louvada nos meios
de comunicação social. Todos nos orgulhamos da “Suiça Portuguesa” ou “Princesa
da Serra” ou mesmo “Rainha da Estrela”, títulos que ao longo do tempo a nossa
Loriga foi acumulando.
Sabemos todos muito bem (digo eu)
que a Loriga de hoje está longe dos tempos áureos do auge da Indústria dos
Lanifícios, que fez da nossa terra um dos expoentes máximos do têxtil na Beira
Serra.
Nos anos 60 do século passado
nasciam em Loriga 200 crianças por ano. Nesta altura nem em 10 anos conseguimos
esse número. Por isso, é preciso perceber que a nossa terra, pese embora os
diversos “Bairrismos”, tem hoje uma grandeza, uma importância e uma dimensão
que nada tem a ver com esses outros tempos.
Perguntar-me-ão o que é que isto
tem a ver com “Bairrismo”?
À primeira vista, pode parecer
que não há qualquer nexo de causalidade. Mas, já lá iremos e vão ver como tudo
se encaixa.
Ouvi há uns anos um conterrâneo
que teve responsabilidades autárquicas dizer, talvez de uma forma exagerada,
que a “massa cinzenta” tinha fugido de Loriga e que por isso Loriga se
degradava. Esta afirmação pode ser interpretada por uns como “Bairrismo” e
pelos seus discordantes, como uma grande falta do mesmo.
Depois há, ainda, o “Bairrismo”
dos loriguenses da diáspora “versus” o “Bairrismo” dos que ficaram em Loriga.
Desde há muito que estes “Bairrismos” se digladiam ao ponto de surgirem
expressões nada abonatórias como… “os filósofos do Trancão” e outras pérolas do
género.
Recuando de novo no tempo
ouviam-se expressões como: “Loriga é a capital dos barrocos!” Hoje, pelo
contrário, ouve-se muitas vezes elogiar a capacidade empreendedora e a união
das gentes dos ditos “barrocos”, constatando que a “velha capital” não consegue
igualá-los mesmo com tantos “Bairristas” no seu seio. O exemplo do evento
“Cabeça Aldeia Natal” é um dos mais apontados como paradigma desta realidade,
mas o “Solstício” de Alvoco da Serra e outros eventos de outras aldeias também
merecem destaque como expoentes do bairrismo das suas gentes.
Atenção!... Até agora apenas
reavivámos a memória para enumerar um conjunto de factos e realidades
facilmente constatáveis por quem ande um pouco atento. Não há aqui qualquer
juízo de valor, pelo menos por agora.
Normalmente há a tentação de
encontrar responsabilidades pela degradação das condições de vida e
desertificação de Loriga em fatores externos. Mas estes não são os únicos
responsáveis por isso. O abandono do interior pelos sucessivos governos, a excessiva
centralização na sede do concelho da maioria dos (poucos) investimentos, são
tudo realidades irrefutáveis.
Mas, como dizia Kennedy e
adaptando a citação à realidade que pretendo retratar: “Não perguntes o que a
tua terra pode fazer por ti, pergunta antes o que é que tu podes fazer pela tua
terra.” Não basta dizer que se é bairrista, é preciso praticar o bairrismo! E
este é que é o mote. Esta é a pergunta que todos os loriguenses que se julgam
ou intitulam de bairristas deverão fazer a si próprios. O bairrismo de bancada
não serve de nada à nossa terra! É preciso “meter as mãos na massa”! É preciso
ação!
Espero que esta minha reflexão
não seja interpretada como sobranceria, crítica pessoal ou mesmo uma posição de
antagonismo contra qualquer instituição de Loriga.
Apenas pretendo lançar dados para
uma reflexão coletiva para um “toque a reunir” que é urgente, para que não se
percam algumas das marcas que nos identificam e nos diferenciam.
As associações de Loriga estão
moribundas! A crise de dirigentes associativos é uma dura realidade que urge
resolver. Dir-me-ão: - Não há gente em Loriga! Os dirigentes são os mesmos em
várias instituições. As pessoas cansam-se mais.
Os grandes eventos de Loriga
também se ressentem desta crise por falta de gente para os dinamizar.
Tudo isto é verdade. No entanto,
se continuarmos a lamentar-nos a situação continuará a degradar-se. Há que
encontrar caminhos, incentivando e formando os mais jovens para assumir, também
eles, algumas responsabilidades nessa área. Os mais experientes têm o dever de
deixar o seu legado aos mais jovens incentivando-os a participar e a praticar a
cidadania ativa.
A Diáspora loriguense tem também
uma responsabilidade para com a sua terra natal. Hoje temos muitos loriguenses
residentes nas áreas metropolitanas que estão aposentados e com tempo para se
dedicar a outras atividades. Porque não assumir algumas responsabilidades
associativas em Loriga? Hoje as distâncias estão muito encurtadas e a
comunicação está muito facilitada pelas redes sociais. Tal como é possível o
teletrabalho também é possível o dirigismo associativo à distância. Poderá ser
uma saída para a crise, desde que não se perca de vista a responsabilidade de
estar presente quando tal for necessário. Há que praticar o “Bairrismo” de
forma ativa, fazendo parte da solução.
Há muito tempo que o diagnóstico
está feito. Todos sabemos qual é o problema. Temos é que nos focar na solução.
E a solução passa por um compromisso de todos os que podem acrescentar. E são
muitos.
Loriga tem cada vez menos pessoas
residentes, por isso, todos, mas mesmo todos, sem divisões e sem cobranças
temos o dever de participar na mudança de atitude e mudar o paradigma de
“Bairrismo” de palavras para um “Bairrismo” de ação!
Todos somos poucos para levar a
cabo esta mudança!
Como dizia o meu avô Joaquim, pessoa muito
sábia: “Mesmo que não consigamos melhorar se despiorarmos um pouco, já estamos
a fazer muito.”
Loriga precisa de todos os
“Bairristas”, mas precisa muito mais de AÇÂO!
Pinto Gonçalves