Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

Trova Nossa

Este Blog pretende ser um espaço de informação sobre várias matérias relacionadas com a Música e o Som de uma forma geral, mas irá ter uma preocupação muito especial com a nossa música tradicional, por um lado, e, por outro, com as Músicas do Mundo.
Estará, como é óbvio, à disposição de todos os que queiram colaborar nesta tarefa de divulgar a a nossa música e enriquecer, com o seu contributo, este espaço que se pretende de partilha.

Publicidade

Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Loriga - A Ribeira de S. Bento... Esquecida ou Bloqueada?...



Quando nos criávamos, em Loriga, nos idos anos 60 do século passado, a ribeira era o nosso mundo...
No verão calcorreávamos, "dinqueiros" a ribeira "pia cima e pia baixo", como no tempo usava dizer-se.
A Ribeira da Nave, por estar mais livre, era mais frequentada. No entanto, a Ribeira de S. Bento, foi aquela com a qual tive o primeiro contacto. Por um lado, pela proximidade, por outro, porque a minha tia Aurora, irmã da minha avó, tinha o moinho do regato onde nós íamos frequentemente buscar farinha para a minha mãe cozer a broa.
A Ribeira de S. Bento, onde estavam instaladas a maioria das fábricas, não era tão apetecível como a da Nave, mas nós usufruíamos dela entre o regato e o "Poço do Leques". E a "Piorca", pela sua configuração estranha, exercia um certo fascínio sobre nós, crianças de tenra idade, que víamos ali mais um grande motivo de aventura.
Na época, a ribeira estava acessível a toda a gente, apesar de a água ser desviada para os "pisões" das fábricas que ainda laboravam, nomeadamente a Leitão & Irmãos, a Redondinha, a das Malhas Nunes & Abreu e a do Moura Cabral. Mas nós não tínhamos qualquer problema em dividir os nossos "territórios de aventura" com as fábricas onde os nossos pais ganhavam o pão e onde nós próprios, durante as férias aprendíamos o valor do trabalho. Lembro-me que, naquele tempo, três crianças de 12 anos, na "Caneleira", alimentavam 20 "Tecelões" na fábrica do Moura Cabral. O meu pai dizia que o patrão nos deixava aprender uma profissão, mas o certo é que os teares trabalhavam, porque nós enchíamos as canelas para as lançadeiras dos teares, continuarem a tecer.
Voltando à Ribeira...
Decidi, no dia  9 de Agosto, aventurar-me pela Ribeira de S. Bento, à procura dos locais da minha infância, nomeadamente a "Piorca".


Tinha pensado publicar algumas fotos com o título de "Ribeira Esquecida", uma vez que a Ribeira da Nave, devido à Praia Fluvial e à sua notoriedade, tem sido alvo de inúmeras fotos e a de S. Bento, raramente é retratada, pelos que, nas redes sociais e não só, divulgam a nossa terra.
Mal eu sabia o que me esperava!...
Ao chegar ao local onde antes estava o moinho, deparei com uma construção, que não tinha nada a ver com a anterior e, mais adiante, uma ponte de cimento, que une as duas margens da ribeira. Mas...  a levada que seguia para a ribeira já lá não está. Então, pensei: -Vou passar para a outra margem e sigo pela levada de lá.
Assim fiz. Mas os silvados não me deixaram prosseguir.
Resolvi voltar ao inicio e subir a rampa da fábrica, na esperança de ir pela levada que estava por detrás desta. Em vão. Não havia qualquer passagem.
"Embarrei-me num cômbaro", como se dizia em Loriga, por trás da atual fábrica de Malhas Pinto Lucas e consegui chegar à levada. Mas, qual não é o meu espanto, quando me vejo rodeado de vedações.
Olho ao redor, enquanto vou fotografando alguns recantos que me pareciam especiais, percebo que estou "enqueiçado", falando em bom Loriguês. Apesar disso, não desanimo e sigo em direção a uma parte da vedação que me parecia ser um portão.
Felizmente apareceu uma pessoa!...
Identifiquei-me e logo obtive licença para passar pelo dito portão. Segui, então, na direção do meu objetivo,  a "Piorca". Pretendia continuar até ao "Poço do Leques", mas... a densa vegetação, por um lado e as vedações por outro, impediram-me de concretizar este desiderato.
Mais uma vez, necessitei de obter licença para passar pelos terrenos vedados e consegui inteirar-me das razões que levaram a este bloqueio da Ribeira.
Sem querer desenterrar, qualquer guerra antiga, apenas pretendo alertar, para o facto de, em Loriga estar a assistir-se, como noutros lados a uma privatização de muitas serventias públicas.
A ribeira sempre foi e deveria continuar a ser acessível. Porém, como alguns têm a pretensão de ser donos do mundo, mesmo que o seu mundo seja uma pequeníssima "quinta", o que é de todos, porque todos nos demitimos de exercer a nossa cidadania, é objeto de apropriação indevida por uns poucos que se julgam com direitos  especiais.
Ao que sei, foi o que se passou com as serventias das levadas que nos levavam para a ribeira...
Foram cortados os acessos, sem qualquer benefício para os proprietários, mas com o prejuízo de todos!
Se não estivermos atentos, talvez um dia destes, não seja possível vermos fotos como estas...