Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

Trova Nossa

Este Blog pretende ser um espaço de informação sobre várias matérias relacionadas com a Música e o Som de uma forma geral, mas irá ter uma preocupação muito especial com a nossa música tradicional, por um lado, e, por outro, com as Músicas do Mundo.
Estará, como é óbvio, à disposição de todos os que queiram colaborar nesta tarefa de divulgar a a nossa música e enriquecer, com o seu contributo, este espaço que se pretende de partilha.

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Visitas Guiadas ao Mundo da Música... estão de volta



Visitas Guiadas ao Mundo da Música
Workshop
“O Período Barroco e a sua influência na música dos nossos dias”

Responsável: Joaquim Pinto Gonçalves, Professor de Educação Musical da EBI Pe. Vítor Melícias

Após a experiência levada a cabo durante o passado mês de Novembro, onde se verificou uma grande aceitação e participação positiva dos intervenientes nos Workshops realizados, vamos dar continuidade ao projecto, para poder abranger um maior número de alunos.
Nesta segunda fase, realizar-se-ão quatro sessões, uma por mês, com um número máximo de 60 participantes, no Auditório Municipal de Torres Vedras, nas seguintes datas:
20 de Março – 14:30h
17 de Abril - 14:30h
15 de Maio - 14:30h
12 de Junho - 14:30h

A realização desta actividade assume um papel relevante no projecto de divulgação das diversas formas de comunicação, levado a cabo pela Biblioteca Municipal de Torres Vedras, junto da população infanto/juvenil.
Enquadra-se, no entanto, nos objectivos levados a cabo pelo próprio sistema educativo, já que desenvolve competências previstas para o Ensino Básico, no âmbito da Expressão e Educação Musical, nomeadamente as, a seguir, descritas:
- Compreensão e apropriação de diferentes códigos e convenções que constituem as especificidades dos diferentes universos musicais e da poética musical em geral;
- Apreciação, discriminação e sensibilidade sonora e musical crítica, fundamentada e contextualizada em diferentes estilos e géneros musicais;

Esta actividade é muito prática, uma vez que envolve os participantes na execução de ritmos e esquemas rítmicos, quer do período Barroco, a partir do tema, A Primavera, da Obra, As Quatro Estações, de António Vivaldi, quer da actualidade com temas como o Mama Mia, dos ABBA, ou o Final Countdown, dos Europe.
A partir da Técnica de Composição do Baixo Contínuo, usada no Barroco, vamos dar-nos conta de que pouco mudou, em relação aos nossos dias, uma vez que o Pop Rock, também utiliza a mesma técnica.
Assim, através da projecção das partituras das várias obras e mudando os instrumentos, vamos sentir o ritmo e perceber o papel do Maestro, dos timbres dos diferentes naipes de instrumentos, das cadências, das sequências rítmicas e outros conceitos, que normalmente não seriam sentidos e apreendidos noutros contextos.


Clique para visitar o Programa de animação da Biblioteca Municipal de Torres Vedras


Poderá ver dois excertos de um dos Workshops realizados em Novembro





segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mestre Ascensão e a preservação do património Musical de Loriga



António Pinto Ascensão (1920-2005), nasceu em Loriga em 8 Setembro de 1920, filho de Joaquim Pinto Ascensão e de Amélia de Jesus Florêncio. "Mestre Ascensão", como muitos o chamavam, foi um dos maiores e mais conceituados maestros de música de Loriga e até mesmo da região.

Biografia
Muito novo ainda, e depois de concluir o ensino primário, onde foi "aprovado com distinção", começou a trabalhar numa das fábricas da indústria de lanifícios local. Mas foi também desde muito novo que nasceu nele a paixão pela música e, por isso, em 1935 iniciou a aprendizagem de música na Banda de Loriga onde foi executante de grande valor até 1948, ano em que assume pela primeira vez a regência da banda.
Casou em 15 de Junho de 1946 com Maria dos Anjos de Brito Saraiva, casamento que durou 59 anos, só interrompido com a sua morte. Tiveram nove filhos, oito ainda vivos. Apesar das dificuldades de então proporcionou a todos uma educação de nível médio ou superior.Homem de convicção e de ideias firmes, caracterizava-o o seu espírito de iniciativa e acção, lutando sempre por aquilo em que acreditava, principalmente, pela sua terra que tanto adorava. Verdadeiro bairrista e querendo o melhor para a sua terra, nunca deixou de apresentar soluções e ideias, tanto de viva voz como através da sua pena nos jornais, nomeadamente, da região sendo, por vezes, mal compreendido.

Décadas de 50 a 70
Nos anos 50, António Pinto Ascensão, foi pioneiro da exibição de filmes em Loriga o que, de certa forma, contribuiu para dar novos horizontes aos jovens, numa altura em que a juventude em Loriga atingia números significativos. Foi de facto, na época, uma lufada de cultura pois a maioria da população, principalmente os jovens, não sabiam o que era a 7ª Arte. Na década de 60, fecha a fábrica Leitão & Irmãos , onde trabalhava como encarregado de Ultimação. Desempregado e com quase 50 anos de idade, e todos os filhos a estudar, iniciou uma nova vida, abrindo uma loja em Loriga, no ramo dos electrodomésticos, situada na "Carreira", tornando-se um conceituado comerciante muito conhecido na região.
Por várias vezes foi regente da Banda da sua terra (1949/53; 1962/65; 1982/87). Era um inovador por natureza quando assumia a regência de qualquer Banda, tendo sempre presente a preocupação de arranjar repertório novo, que tornaria qualquer Banda de música bastante mais rica. Quando da sua última passagem pela Banda Recreativa Musical de Loriga, 1982/87, foi o grande impulsionador da criação da publicação "A Voz da Banda" que teve, na altura, uma certa expressão, a qual, depois da sua saída, deixou de ser publicada.Ainda nessa altura, e por sua iniciativa, a Banda teve uma Escola de música, reconhecidamente muito importante, à qual aderiu muita juventude. Bem como, foi criado em Loriga o grupo "Amanhã", ao qual o mestre Ascensão deu preciosa ajuda contribuindo no aperfeiçoamento deste grupo de jovens de cantares tradicionais.
Foi da sua autoria, a introdução do Hino "Ó Padroeira Amorosa" na Festa da Nossa Senhora da Guia em Loriga, que remonta ao ano de 1950, um arranjo do original cântico "Ó Padroeira Amorosa" que se cantava, e ainda hoje se canta, à Senhora da Nazaré na cidade de Belém, Pará, no Brasil.
Sem nunca deixar a sua dedicação à musica foi, durante cerca de 14 anos, regente da Banda de São Romão, onde desempenhou um trabalho de grande relevo ainda hoje ali recordado. Regeu também, durante algum tempo, as Bandas de Torrozelo e Paços da Serra. Frequentou um curso de Aperfeiçoamento e Didáctica Musical na Fundação Calouste Gulbenkian onde enriqueceu os seus conhecimentos musicais, que o habilitaram para dar aulas de Educação musical, primeiro no Externato Nossa Senhora da Conceição em São Romão e depois na Escola do Ciclo Preparatório em Loriga.

Após o 25 de Abril
Foi presidente da Junta de Freguesia de 1972 a 1976, anos problemáticos, em que os meios financeiros eram escassos, conseguindo levar a efeito obras de grande vulto, projectando Loriga como Vila mais moderna e, onde a preocupação ambiental foi sempre presente, tendo nessa altura sido levada a efeito uma grande campanha de incentivo junto à população, para uma Loriga mais limpa. É de registar o facto de que, após a revolução do 25 de Abril de 1974, a Junta de Freguesia recebeu o voto favorável dos loriguenses numa reunião realizada no Salão Paroquial, completamente cheio.
Foi o grande impulsionador e um dos fundadores da Associação de Apoio à Terceira Idade, um carência em Loriga, que apesar de o percurso não ter sido pacifico, contou sempre com a força e o dinamismo do senhor António Pinto Ascensão, para prosseguir, e que veio a concretizar-se, com a sua fundação em 12 de Julho de 1990, sendo uma mais valia para os idosos da sua terra. Foi o primeiro presidente desta Associação.
O "Mestre Ascensão" era um verdadeiro compositor de peças de cariz popular, tendo ao longo da sua vida feito recolhas, e passou para o papel inúmeras cantigas populares que, de outra forma, se teriam perdido. Em 1988, foi ao maestro António Ascensão que o Etnomusicólogo Michel Giacometi se dirigiu com o intuito de recolher os cânticos da Ementa das Almas de Loriga. As gravações foram feitas em 5 de Outubro na Escola Primária de Loriga. A sua paixão pela música parecia ocupar todo o seu tempo. Entretanto, e com mais de setenta anos, "descobriu" o computador para registar dezenas de obras que graciosamente colocou à disposição das bandas de música da região, ganhando mesmo vários prémios.
Em 1994, foi autor da letra e da música da marcha de São João, classificada em primeiro lugar na cidade de Viseu. Em 1997 voltou a brilhar nesta cidade ao conquistar novamente o primeiro lugar no concurso das marchas populares de Santo António. A marcha que apresentou ganhou ainda os prémios para o melhor arranjo musical e para a melhor letra. Integrado na Associação Humanitária de Paranhos da Beira, o "Mestre Ascensão" obteve nos anos 2003 e 2004, o primeiro prémio destinado a temas de canções e poesia entre idosos, que anualmente se realiza nos concelhos de Seia e Gouveia. No dia 3 de Julho 2003, a convite do Presidente da Câmara Municipal de Seia, o maestro Ascensão, dirigiu, em simultâneo, sete bandas do concelho: Loriga, Seia, São Romão, Torrozelo, Tourais, Carragozela e Santa Marinha, na interpretação de uma marcha da sua autoria, especialmente composta para esse dia, com o tema "3 de Julho, dia de Festa" , dedicado à inauguração da remodelação do edifício dos Paços do Concelho, e ao mesmo tempo assinalando as comemorações do XVIII aniversário da elevação de Seia a cidade. Em 2005, apresentou em Loriga uma Marcha para as festas de São João. É também da sua autoria a marcha do Centenário da Banda de Loriga, a comemorar em Julho de 2006, que a actual Direcção em boa hora lhe pediu para compor, o que fez com muito prazer e orgulho e que intitulou "Cavalgando no Futuro". A última manifestação pública, aconteceu no dia 11 de Outubro 2005, altura do seu 85º aniversário, quando a Banda Filarmónica de Tourais se deslocou, propositadamente, a Loriga, para lhe fazer uma singela homenagem, num reconhecimento público, ao trabalho e dedicação do "Mestre Ascensão" por aquela Banda.
Poucos dias depois de ter completado 85 anos de idade, faleceu em Viseu no dia 29 de Outubro de 2005, onde se tinha deslocado para um controle de saúde. O funeral realizou-se em Loriga no dia seguinte, sendo sepultado no cemitério local. Terminou assim, a partitura da sua vida recheada de acordes harmoniosos, pautada pelo rigor e pela disciplina. Uma vida que começou no tear e acabou no computador, sempre com a harmonia que a música exige. Loriga viu também partir um dos seus maiores bairristas, ao qual muito ficou a dever.


Carlos Brito Pinto Ascensão

domingo, 25 de janeiro de 2009

Artigo sobre A Tradição Oral e a Preservação das Nossas Raízes Culturais.

Neste artigo, procuramos retratar as vivências da infância e as músicas que naquela altura povoavam os campos em Loriga, no decorrer das várias tarefas agricolas ou em momentos de lazer.
A Força e a Riqueza Cultural Da Tradição Oral

Tradições da minha terra - A "Chocalhada" de S. Martinho

Nos últimos anos, vem acontecendo, em Loriga, na Serra da Estrela, a tradicional "Chocallhada" na noite de S. Martinho.

É uma tradição que tem a ver com o facto de, desde há muito as gentes da serra se dedicarem à pastorícia.
O gado, quer ovino e caprino, quer bovino, que abundava muito na região de Loriga noutros tempos, usava a "loiça" (chocalhos e campaínhas) para anunciar a sua presença e para indicar ao pastor por onde andava, quando algum se tresmalhava.
Assim, os pastores pegavam na "loiça" do seu gado e, e desciam ao povoado na noite de S. Martinho, animando com o grande alarido dos chocalhos as gentes de Loriga.

Ao investigarmos esta tradição, deparámo-nos com algumas explicações interessantes, se bem que, algumas delas, contraditórias.
Para uns, trtava-se de uma forma de ritualizar os medos que os pastores sentiam. Quando, isolados no cimo da serra, enfrentavam as intempéries e os perigos da proximidade dos lobos esfomeados, sentiam alguns medos, quanto mais não fosse, pela solidão e impossibilidade de ter ajuda, caso algo corresse mal. Esta tradição tão ruidosa era uma forma de "espantar os maus espíritos", para que não exercessem as suas más influências sobre si e os seus rebanhos.

Outra explicação leva-nos à tradição da quadra do S. Martinho. Como era a altura de provar o vinho e os pastores, normalmente estavam com os rebanhos mais próximos da vila, sentiam-se mais seguros e abusavam um pouco mais da bebida, o que naturalmente era causa de alguma euforia exagerada. Assim, pegavam na loiça do seu gado e davam largas a essa euforia causada pela abundância do vinho.
Também há quem diga que, por esta altura era o tempo de os rebanhos regressarem da transumância para perto da vila e esta era uma forma de anunciar a alegria que os pastores sentiam ao voltarem ao convívio com as suas famílias e amigos.
O certo é que se trata de uma tradição muito interessante e, em boa hora retomada por um grupo de homens e rapazes que a têm mantido e se espera continuem a manter.
Também a ANALOR - Associação dos Naturais e Amigos de Loriga, com sede em Sacavém, tem feito reviver nesta cidade as tradições da sua terra, nomeadamente esta, noite de S. Martinho e as Janeiras por altura do Natal.