Já antes aqui tínhamos falado de Círios e da importância de que se revestiam estes rituais, na ancestral cultura rural da Estremadura.
Entre outros, já nessa altura referenciávamos o Círio de Ponte do Rol a Santa Cristina.
Pois, no passado Domingo, dia 11 de Setembro, precisamente seis anos depois, já que o último também se realizou a 11 de Setembro de 2005, foi retomada a tradição.
Pois, no passado Domingo, dia 11 de Setembro, precisamente seis anos depois, já que o último também se realizou a 11 de Setembro de 2005, foi retomada a tradição.
Desta vez incorporámos o ritual, participando activamente, quer na parte religiosa quer na profana que se lhe segue.
Mas antes de prosseguirmos, convém saber quem foi Santa Cristina.
Santa Cristina - Virgem e Mártir.
A sua memória celebra-se a 24 de Julho, de acordo com o calendário Litúrgico
Cristina nasceu na Toscana (Itália), perto do lago de Bolsena, no ano 288 d.C., e com apenas 12 anos morreu mártir, no ano 300 d.C. Era filha de Urbano, oficial do exército em Tir, na Etrúria, parte da Toscana. Urbano era rude de sentimentos e inimigo dos cristãos. Em sua própria casa, muitas vezes os cristãos eram submetidos a interrogatórios humilhantes. Diante de tais cenas, Cristina perguntava-se qual o motivo da serenidade e alegria dos cristãos, que ela já começava a admirar e venerar.
A resposta veio-lhe por uma escrava cristã, que a preparou para o Batismo. Urbano desconfiava que a filha se interessava pela comunidade cristã. Deu-lhe ordem de prestar culto a ídolos, queimando incenso. A menina negou-se a isso. Interrogada pelo pai, Cristina respondeu: "Tolo é vosso medo, tola a vossa advertência; diante de um deus cego aos sofrimentos do povo, surdo ao clamor dos fracos, eu não peço favores e não acendo uma vela. Ao Deus vivo, ao Senhor do céu e da terra que nos enviou seu Filho Jesus, a este, sim, apresento sacrifícios de verdade e amor".
A severidade do pai aumentou, mas Cristina respondia a isso participando da celebração da Eucaristia e de outras reuniões dos cristãos, visitando os encarcerados, dando esmola aos pobres. Sua coragem e caridade fizeram-na vender as imagens dos ídolos para adquirir bens em favor dos pobres. O pai ficou furioso. Por isso, Cristina foi chicoteada. Aos que lhe pediam que cedesse à vontade do pai, respondia: "Deixar a vida não me custa; abandonar minha fé, isto nunca".
Urbano prosseguiu na tortura: a filha, amarrada, foi lançada ao fogo. Conta a história que um anjo defendeu-a e as chamas não a queimaram. Ainda irado contra a filha, ordenou prendê-la. Então, mandou amarrar uma pedra de moinho em seu pescoço e lançá-la ao lago. Conta-se que após lançada às águas, a pedra de moinho veio à tona, não permitindo, assim, que Cristina se afogasse. A exaltação de Urbano foi tão grande que morreu de colapso.
Dio, sucessor de Urbano, também nada conseguiu de Cristina e, por isso, ordenou que fosse queimada viva. Segundo a história, o fogo não queimou a menina. Posta entre cobras, nenhuma a feriu. E tendo sua língua cortada, mesmo assim cantou os louvores do Senhor Jesus Cristo. Então, o juiz, enraivecido com os triunfos da jovem, ordenou sua morte a flechadas. Com isso foi-lhe tirada a vida terrena e ela entrou na glória eterna.
Deus escolhe o que é fraco para confundir os fortes. Na fraqueza física desta adolescente, Ele mostrou a força da perseverança na fé, que deve animar cada cristão.
O testemunho de Cristina está ai: "Foi fiel a seu Deus, apesar de inúmeros e imensos obstáculos que teve de enfrentar em sua tenra idade".
As gentes de Ponte do Rol veneram Santa Cristina desde há muitos anos. A jovem mártir é também venerada por ser a protectora dos animais, animais que, desde sempre, até à data da mecanização da agricultura, eram essenciais nas tarefas da lavoura e, sem a sua ajuda e colaboração preciosas, as sementeiras, as colheitas e outras árduas terefas desta actividade, seriam muito mais penosas.
Assim, anualmente, os agricultores deslocavam-se em romaria, em carros de bois, até à capela de Santa Cristina na Serra do Socorro, para pedir protecção para os animais, para as sementeiras e colheitas, no sentido de poderem ser bem sucedidos nas suas actividades.
Eram 10 horas e, tal como manda a tradição, depois de ir à Igreja de Ponte do Rol, buscar a bandeira do Círio (nome que é dado ao Pendão de Santa Cristina), o itinerário, que este ano foi seguido com ligeiras alterações, passava por Bonabal, Ventosa, Chãos, Feiria, Livramento e Caneira Nova. Este ano fizemos paragens em Chãos, Freiria e Livramento, mas era usual fazer mais paragens. À passagem do Círio por estas localidades, o Gaiteiro tocava, assinalando assim, a passagem do mesmo e, cumpriu-se a tradição.
Chegados a Santa Cristina, por volta das 12 horas, formou-se um um cortejo atrás do Pendão e dos gaiteiros que este ano eram três elementos do Grupo Rufos & Roncos.
Seguiu-se um pequeno lanche, uma vez que a Missa estava marcada para as 13 horas. Após a Missa, celebrada pelo Pároco da Azueira - Livramento, Sr Pe. Jorge Sobreiro, teve lugar uma procissão, com o andor e os pendões de Santa Cristina.
Seguiu-se o Almoço e o convívio entre todos os romeiros, que durou até perto das 17 horas.
O regresso também tinha um itinerário pré estabelecido, de acordo com a tradição. Dirigimo-nos a Tourinha onde, mais uma vez o gaiteiro assinalou a passagem do círio, com a sua música, em direcção ao Turcifal, com paragem obrigatória. As gaitas de foles, novamente a marcarem a sua passagem. Continuámos em direcção a Moçafaneira, Figueiras, que também realiza um círio a Santa Cristina, Ribeira de Pedrulhos e Gondruzeira onde se fez nova paragem, assinalada com o toque dos gaiteiros.
A última etapa, levou-nos de regresso à Igreja de Ponte do Rol, para devolver a bandeira e entregá-la, simbolicamente, aos próximos juízes, que tudo farão para que a tradição continue viva, no próximo ano.
O dia terminou no Parque Verde da Ponte, com um lanche, convívio e animação, até a noite chegar.
Deixamos aqui um vídeo deste dia memorável, em que, mais uma vez, a tradição se cumpriu em Ponte do Rol.
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