Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ementa ou Amenta das Almas?...

O Esclarecimento que se impõe...
Porque entendemos que é necessário esclarecer as pessoas relativamente a alguns aspectos da nossa memória colectiva, partilhamos com os nossos leitores e com os do jornal Garganta de Loriga (para onde enviámos o artigo), as reflexões e pesquisas que fizemos sobre este assunto.

Há alguns anos atrás, desenvolvemos uma investigação sobre a origem do ritual da “Ementa das Almas”. Esta tradição de Loriga, remonta, de acordo com o estudo por nós efectuado, aos tempos do Canto Gregoriano, por volta dos Séculos IX, X e XI. Tal conclusão assenta na construção “modal” de alguns dos cânticos do ritual, nomeadamente os “Martírios”, embora outros tenham a mesma origem.

Para aprofundar um pouco estes aspectos podem consultar o artigo que sobre este assunto que se encontra publicado neste Blog em http://trovanossa.blogspot.com/2008/09/ementa-das-almas-em-loriga.html .
Mas a questão do nome não é uma questão menor. É que há muitas terras com rituais de Encomendação ou Amenta das Almas, como vulgarmente lhe chamam. No entanto, o nosso ritual difere da grande maioria, não só na forma, mas também na substância. E não somos só nós a dizê-lo.

O grande etnomusicólogo Michel Giacometi, passou por Loriga e trabalhou com António Ascensão na recolha de música religiosa popular. Giacometi tabalhava, na altura, na recolha de espécimes para a sua "Antologia da Música Religiosa Popular Portuguesa", que deveria ser editada pela Valentim de Carvalho.

Em contacto posterior escreveu a António Ascensão, dizendo que os espécimes recolhidos em Loriga eram, sem dúvida, dos mais interessantes que havia recolhido pelo país, pois, no capítulo das Encomendações das Almas, não havia nada que se lhe comparasse.
Este ritual de Loriga, não se compara com as vulgares Amentas das Almas e por isso defendemos que a diferenciação do nome é, também, uma marca de originalidade que passou de geração em geração por tradição oral.

Em Loriga, desde crianças, habituámo-nos a ouvir falar da «Ementa das Almas». Todos aqueles que cumpriam este ritual a ele se referiam desta forma. No entanto, a partir de uma certa altura, começou a constar em Loriga que o termo correcto seria “Amenta” e não “Ementa”.
O curioso desta questão é que uns e outros podem estar certos porque ambos os termos existem e com significados similares.
Segundo Sousa Viterbo*, «amentar», quer dizer: “Quando os pastores da Igreja rezam pelos defuntos”.

No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora a palavra «amentar» surge com o significado de «Encomendar as Almas».
No entanto, não quisemos ficar por aqui e fomos procurar a origem das palavras e chegámos a interessantes conclusões.

Segundo o Dicionário Etimológico a palavra «amentar», do Latim amentare surge pela primeira vez na língua Portuguesa no Séc. XVIII e com o significado de «prender com correias, atar».
A mesma fonte refere a palavra «amentar», como tendo origem em mente(lat. Mens mentis) com o significado de intelecto, alma espírito, do Latim Amens amentis com o sentido de que perdeu a mente.

Mas o mais curioso desta nossa procura é que do ponto de vista da origem etimológica do termo, fomos encontrar o termo «ementar», também relacionado com mente, como tendo surgido na língua Portuguesa pela primeira vez no Séc. XIII com o significado de recordar.


Perante estes factos poderemos afirmar que termo «Ementar» é o que vem de encontro à nossa tese de situar o início deste ritual na Idade Média. Por outro lado, os participantes que há décadas atrás diziam que estavam a “Ementar as Almas”, estavam, do ponto de vista do português, cobertos de razão.
Afinal o que é este ritual senão o recordar as almas do purgatório?...

Assim, no caso de Loriga, parece-nos mais correcto dizer a “Ementa das Almas” e não “Amenta das Almas”.
Espero poder ter contribuído para esclarecer algumas dúvidas.
Este é o meu ponto de vista… claro!...

Nota: *In, "Elucidário”, Sousa Viterbo. Cit. p. Armando Leça, Música Popular Portuguesa, p. 10
Pinto Gonçalves

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