Foto: João Lopes
Loriga, a minha terra natal, tem uma riqueza cultural muito própria, bastante divulgada entre os seus naturais e alguns amigos, mas desconhecida do grande público e dos que estudam, investigam e compilam, para posterior divulgação, estes fenómenos da cultura popular.
Hoje falo, concretamente, do dialecto típico de Loriga, a que há uns bons anos, no início do Jornal "Garganta de Loriga" dei o nome de "Loriguês".
Assim, vou dar-vos conta de um diálogo imaginário, mas que podia ser real, ainda, há 30 ou 40 anos, numa das ruas de Loriga.
História em Loriguês I
- Ó senhã Marizé, já lá vai pia baixo?
- Péis lá véu cum Deus, mas cheia de maleitas. Sabe, estou aqui num sostro! O mê Tóino diz que é falta de óleo nas missagras.
- Ah! Acredito, acredito. Co este tempo assim! Anda lá uma barduça na serra. Já lá vem o Inemigo!!! Atão, até parece que os ossos ficam amolancados. É uma triste vida! E depéis corre esta guieira, ficamos com o corpo encaramelado.
- É verdade Dos Anjos. Olha, inda onte fui apanhar um queixito de caldo p'ra fazer uma sopita e não queiras saber, veio uma trambuzineira qu'inté m'aforricou o chapéu. Isto é que vai uma invernia! Deixa-me lá ir que já começou a beirolar, senão inda tenho que me aqueitar debaixo d'algum pelanquim.
- Vá cum Deus!
Dicionário:
senhã - senhora
pia baixo - por aí abaixo
sostro - corpo dorido, maltratado
missagras - dobradiças
barduça - névoa cerrada
Já lá vem o Inemigo!!! - expressão usada quando a névoa começava a baixar da serra em direcção ao vale
amolancados - danificados, amolgados
guieira - aragem fria
encaramelado - enregelado
queixito - bocadito, pedacito
caldo - couves
trambuzineira - vento forte
aforricou - avariou, estragou
beirolar - cair chuva miúda
aqueitar - abrigar
pelanquim - varanda
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