Blogue Iniciado em 31 Julho de 2008

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domingo, 21 de novembro de 2010

Tradições da Minha Terra - Brincadeiras... e Jogos ...

Há algum tempo atrás publiquei no site da Confraria de Broa e do Bolo Negro de Loriga, no sector de Curiosidades da Broa, um artigo sobre as brincadeiras que, em crianças, o milho nos proporcionava. Decidi hoje publicá-lo aqui, continuando com a divulgação das "Tradições da Minha Terra"...

As brincadeiras e os brinquedos do Milho… em Loriga

Nos idos anos 60, quando as malhadas eram todas cultivadas… quando o “girador” não “tinha mãos a medir” para que a água não faltasse em nenhum dos socalcos… quando os moinhos trabalhavam sem cessar, para dar vazão à procura de farinha… quando a broa era amassada em casa e cozida nos fornos comunitários… quando as fábricas trabalhavam de noite e de dia, empregando toda a população activa disponível… as crianças enchiam as ruas com as suas correrias e a algazarra típica de bandos de “pirralhitos” que nas suas brincadeiras alegravam todos os lugares da vila. Desde a Vista Alegre ao Terreiro do Fundo, do Porto até S. Ginês, do Vinhô à Fonte do Vale, do Reboleiro até ao Tapado era um rodopio de gente miúda sempre em movimento, num desafio constante a uma quantidade de perigos que hoje se sobrevalorizam, mas aos quais, nesse tempo se dava pouca importância.

Tempos alegres e felizes… apesar das carências materiais…

“A necessidade aguça o engenho” – diz o povo. E nesses tempos as crianças com o seu espírito inventivo, também adaptavam os seus jogos e as suas brincadeiras, com uma criatividade extraordinária, às características de cada estação do ano ou de determinadas tarefas agrícolas ou industriais.

Assim surgiram jogos como o futebol com a “bexiga do porco” o “pau de bico” o “cóque”, o “óculo” com as anilhas do fundo das canelas, a “risca” o “rendizio” os “ciclistas” com as caricas e os “caroços voadores” com o caroço da espiga do milho.

Por se tratar de uma derivação directa do milho, é sobre esta brincadeira que hoje nos debruçaremos.

De facto, quando chegava o tempo de “escanar” o milho, já a criançada se agitava, porque algumas espigas caíam e não sendo aproveitadas para outras finalidades, começavam as crianças a usá-las nas suas brincadeiras. No entanto, era depois da “debulha” que se podiam ver os céus recortados por estes autênticos helicópteros naturais.

O nosso local de predilecção era o tapado.

Aí, os meus tios, cultivavam a grande malhada do tapado e mais algumas courelas viradas para o avenal. Daí que a quantidade de milho colhido era bastante significativa.

Quando o milho estava pronto para ser debulhado, lá juntávamos o nosso bando para aproveitar o maior número possível de caroços, de preferência inteiros, já que muitos se partiam dentro da máquina. Na altura já havia umas máquinas onde se metiam as espigas num tabuleiro superior e, dando à manivela debulhava as espigas, cabendo-nos a tarefa de retirar os caroços e deixar os grãos de milho que ficavam no chão em cima de um toldo.



Mas voltando à nossa brincadeira…

Depois de termos juntado uma quantidade significativa de caroços, de calibre médio, uma vez que os grandes caíam muito depressa e os pequenos não tinham peso para subir, havia que passar à segunda fase – a das penas.

Sim, porque estes nossos helicópteros eram constituídos por um caroço de milho e várias penas de galinha, espetadas no “cu” do caroço, de forma circular para lhe permitir voar com algum equilíbrio.


Depois de construídos alguns exemplares, havia dois tipos de competição. O que na fase ascendente conseguia ganhar maior altitude e o que na fase descendente conseguia planar melhor e cuja queda era mais lenta.

Enquanto durava o fornecimento de caroços os rabos das galinhas e, também, os dos galos, não tinham descanso. Felizmente havia na época galináceos em abundância, o que permitia alimentar esta brincadeira durante um certo tempo.

Os caroços partidos e os restantes que não eram aproveitados para voar, eram, por vezes utilizados em lutas entre grupos rivais. Depois de molhados, os caroços ganhavam consistência e ficavam mais pesados. Assim, eram usados como arma de arremesso. É que, embora aleijando um pouco porque eram duros, não causavam os estragos, nem eram tão perigosos como as pedras.

Se bem que… como “quem não tem cão… caça com gato”… muitas vezes as armas eram mesmo as pedras.

Acabado o fornecimento de caroços… outra brincadeira apareceria, de acordo com a época, a estação do ano ou com a criatividade de cada grupo.

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