Fernando Gonçalves - 1934 / 1997
Na passagem de mais um "Dia do Pai", não quero deixar de prestar aqui, uma homenagem a todos os pais, nesta evocação que faço do meu.
Fernando Gonçalves, nasceu em Loriga a 23 de Setembro de 1934, tendo vindo a falecer, também na nossa terra em 22 de Janeiro de 1997, curiosamente, no ano em que fui pai pela segunda vez.
Há coisas assim... perdi o pai... ganhei um filho! É o Ciclo da Vida.
Fernando Gonçalves, nasceu no seio de uma família de agricultores, mas viria a ser operário, como, aliás, a grande maioria dos loriguenses da sua geração. No entanto a terra sempre exerceu um grande fascínio sobre a sua vida, pois conciliou, ao longo da sua existência, a indústria e a agricultura.
Fernando foi sempre um inconformado e, por consequência, empreendedor.
Seguindo as pisadas do seu irmão Carlos, rumou a Lisboa, onde permaneceu alguns anos, mas como mais tarde se veria, não conseguia estar muito tempo longe da sua querida Loriga. Era o chamamento da terra...
Assim, regressa a Loriga e divide a sua actividade entre a fábrica e a agricultura, que nunca deixou definitivamente. Entretanto, seguindo a tradição de família, já que os seus irmãos também eram filarmónicos, ingressa na banda, onde tocava saxofone soprano.
Sendo o mais novo dos filhos de Abílio Luís Amaro (conhecido como Abílio "Tripa") e Maria Gonçalves, viria a casar com Maria Emília Florêncio Pinto, também, a mais jovem dos filhos de Joaquim Pinto Assunção (conhecido como Joaquim "Faztudo") e Amélia de Jesus Florêncio.
Desse casamento nasceram quatro filhos: a Mª Aurora, em 57, o Quim, em 59, o Ismael, em 61 e em 68, viria a nascer a Mª Raquel.
Sempre inconformado, viria a passar pelas várias fábricas de Loriga, com a excepção da Metalúrgica passou por todas as fábricas, mas também trabalhou na Fisel, em Seia e na Vodratex, em Vodra, em Passos da Serra e, tentou até a dura experiência da emigração.
Em 1969, foi "a Salto", assim se dizia da emigração ilegal, para o Luxemburgo, juntamente com um grupo de loriguenses e outros portugueses de proveniências diversas.
As pripécias que contava dessa atribulada viagem até ao Luxemburgo, são dignas dos filmes mais rocambolescos. Desde atravessarem rios a nado, até passarem fome durante vários dias ou andarem sem rumo, sem conhecer ninguém, nem falar as linguas das gentes dessas paragens, houve um pouco de tudo.
Mas chegaram ao destino sãos e salvos e rapidamente começaram a trabalhar.
No entanto, esta aventura duraria pouco mais que três meses, já que, segundo ele, se... - para ganhar algum dinheiro era preciso tanto sacrifício, preferia sacrificar-se na sua terra, junto da família.
Um dos companheiros de aventura dizia muitas vezes: - O Fernando não tem espírito de emigrante porque, a cada refeição, vê a mulher e os filhos no fundo do prato.
Era de facto assim. Para ele a família era o porto seguro.
Era rude com os filhos, muito exigente, como, aliás, era consigo próprio. Afinal, era esse o modelo que herdara de seus pais.
Uma das formações da Banda que incluía o meu pai
Foto Blog Filha de Loriga
Fazia amizades muito facilmente, daí que, onde quer que fosse deixava logo um rasto de amigos, pois era muito animado e divertido, fazendo parte daquele grupo restrito que, na banda, animava as noites nas casas e adegas dos mordomos nas terras onde a banda actuava.
Uma das formações da Banda que incluía o meu pai
Foto Blog Filha de Loriga
Sem ser beato, tinha uma religiosidade exigente que transmitiu aos filhos, tendo feito parte dos movimentos operários católicos como a JOC e a LOC. Mais tarde fez o Curso de Cristandade.
Tinha uma forte crença na vida eterna, que o leva, no período conturbado do pós 25 de Abril de 74, juntamente com um grupo restrito de carolas, a preservar a tradição da "Ementa das Almas", que outros, incluindo alguns frequentadores assíduos da igreja pretendiam que acabasse.
Era ele que, juntamente com o José Fernandes (mais conhecido por "Aleixo"), quer chovesse, quer nevasse, se levantavam mais cedo para andar, de porta em porta, a reunir os participantes deste ritual secular de Loriga, que contava, na altura com o veterano Ti Zé Garcia.
Durante anos o acompanhei sempre que estava em Loriga, pois estudava no Fundão, no seminário e, só na última semana da Quaresma e na Semana Santa me juntava a ele.
Vem destes tempos o meu interesse por esta tradição, porque ela era importante para o meu pai e recebi dele este legado.
Quando Michel Giacometi contactou o Mestre Ascensão, seu cunhado para recolher registos da Ementa das Almas, este chamou o Fernando e o Zé, não só para cantarem para que fosse gravado pelo Etnomusicólogo, mas, sobretudo, para explicarem, de viva voz, o que fazia um grupo de homens, levantarem-se de madrugada, para cantar, segundo eles, para ..."Aliviar as Almas". Hoje serão outros a cantar para aliviar a sua alma que, espero, repouse em paz...
Apesar de, nem sempre, como é normal em todas as famílias, nos entendermos na perfeição, sinto que, não seria o pai que hoje sou, se não tivesse um pai como o meu.
O meu agradecimento e a minha homenagem ao grande pai que tive.
Obrigado Pai!!!!
2 comentários:
Homenagem muito bonita!
Recordo com saudade o meu próprio Pai!
Abraço
Só quando somos pais, nos apercebemos, verdadeiramente, da importância do nosso pai...
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